Todas as calcinhas, as rosas de lacinho, as branquinhas de renda,
aquela outra para o aniversário, vão ficar guardadas no armário;
E os outros presentes que iam ser dados, vão ser esquecidos.
Se arrependimento matasse, teria ao menos aceitado
de bom grado, se insistisse, o colar de pedrinhas azuis.
Agora começar tudo de novo: a academia, a lista de filmes,
o livro de filosofia.
Ligar pra todas as amigas, vai ser sábado de segunda a quinta.
Lidar com a dúvida que mais a devora -um dilema a parte.
Gorda ou gostosa, gorda ou gostosa,em qual delas acreditar agora?
Até o brigadeiro feito antes com zelo tornou-se inimigo.
Como entrar naquela calça que
meses atrás conquistou o gatinho?
Pensando a fundo, ainda tem todos os retratos.
Na praia.
No parque.
Na piscina.
Beijos, abraços, close no nariz engraçadinho.
Sorrisos apaixonados.
(Ai, que raiva do cretino!)
Parece agora um grande museu do desespero.
Mas, bola pra frente. Se olha no espelho, nem liga,
muda essa cor horrorosa do cabelo. O verão ainda promete,
além de cerveja gelada, muitos assobios
( de fato a academia está no top da lista)
Do ex agora, só sobrou mesmo uma caixa
de lencinhos vazia.
Nem mais uma lágrima se atreve a chorar,
as amigas falaram: não vale a pena, a mãe e o pai
também acham. Esquece aquele edema!
Mas daí ela pensa que ele era tão, tão, tão....
e que tudo era bom, bom, bom.
De relance olha a prateleira de sapatos,
vê o roxo, tipo mulher gato.
Não pensa duas vezes, agora, de fato, chega.
Batonzinho rosa só pra dar uma cor.
Fecha a porta do quarto.
Com cuidado desce as escadas.
Deixa tudo para trás,
porque é sempre tudo de novo.
E então já está, pensa:
Que venha o próximo namoro.
23/12/2009
17/12/2009
Quanto tempo falta para esse sol de todos os dias
parar de iluminar as árvores da minha insegurança,
E deixar que as sombrar morram, aos poucos, dentro da noite?
E essa lua? A quantas anda seus giros em volta da minha órbita?
Da minha terra seca, dos meus sorrisos sem sulcos?
Quanto tempo falta? É inútil, é vão, é esquecido.
Vão-se as horas e espalhadas pelos sítios em volta
como folhas de outono, cobrem no meu rosto o medo.
Sem vento, a permanência delas é quase eterna.
Eterna enquanto dure o universo de coisas
dentro da minha cabeça ardida, ardida.
Os astros da fortuna pararam na casa da saúde
ali moram, velhos, senis, grandes bolas vermelhas.
Quanto tempo falta ainda para que eu possa crer
de fato, nos fatos? Na verdade, na certeza?
E deixar que a febre ceda e meu corpo resfrie
e meu sono seja com sonhos de pessoas silenciosas.
De pessoas com rostos suaves e olhares diretos
que olham pra dentro de mim como espíritos.
Falta quanto mais e quanto mais será preciso
aguentar essa urgência me comendo.
Eu me vejo aqui e não posso entender o que faço.
Aceito andar em linhas retas por cima de mim mesma
e vejo que talvez seja imprudente não olhar para os lados.
Mas, quanto tempo falta?
Só lamento não saber e sofrer por vontades
frívolas e sem graça e sem força pra sobreviverem.
Enquanto isso na rua, no céu, na paulista a vida
corre sozinha me deixando para trás.
Quanto mais, quanto mais?
Os dedos que enfio na terra formam furos profundos,
ali enfio sementes e rezo e desejo e as amo.
Querendo que o tempo seja justo e as deixe crescer
e que eu possa cuidar delas como não cuidei de mim.
parar de iluminar as árvores da minha insegurança,
E deixar que as sombrar morram, aos poucos, dentro da noite?
E essa lua? A quantas anda seus giros em volta da minha órbita?
Da minha terra seca, dos meus sorrisos sem sulcos?
Quanto tempo falta? É inútil, é vão, é esquecido.
Vão-se as horas e espalhadas pelos sítios em volta
como folhas de outono, cobrem no meu rosto o medo.
Sem vento, a permanência delas é quase eterna.
Eterna enquanto dure o universo de coisas
dentro da minha cabeça ardida, ardida.
Os astros da fortuna pararam na casa da saúde
ali moram, velhos, senis, grandes bolas vermelhas.
Quanto tempo falta ainda para que eu possa crer
de fato, nos fatos? Na verdade, na certeza?
E deixar que a febre ceda e meu corpo resfrie
e meu sono seja com sonhos de pessoas silenciosas.
De pessoas com rostos suaves e olhares diretos
que olham pra dentro de mim como espíritos.
Falta quanto mais e quanto mais será preciso
aguentar essa urgência me comendo.
Eu me vejo aqui e não posso entender o que faço.
Aceito andar em linhas retas por cima de mim mesma
e vejo que talvez seja imprudente não olhar para os lados.
Mas, quanto tempo falta?
Só lamento não saber e sofrer por vontades
frívolas e sem graça e sem força pra sobreviverem.
Enquanto isso na rua, no céu, na paulista a vida
corre sozinha me deixando para trás.
Quanto mais, quanto mais?
Os dedos que enfio na terra formam furos profundos,
ali enfio sementes e rezo e desejo e as amo.
Querendo que o tempo seja justo e as deixe crescer
e que eu possa cuidar delas como não cuidei de mim.
06/12/2009
O Filho
Esse já nasceu quase morto
não tinha um braço e seus
dentes nunca nasceram.
Os olhos quando bons
viam cores, porém, sempre
opacas e embaçadas.
Como tentaram amar aquele monstro,
beijando-lhe a fronte meio amarelada,
todos os dias e todas as noites.
Mesmo com repulsa deram seus dedos
para que a frágil mão os segurassem.
Durante um tempo alimentaram-no
com amor, com zelo.
Depois, só queriam ver de longe
aquele rebento,
pois seu odor de podridão doía-lhes
o nariz e dava náuseas.
Tentaram crer que aquilo era o filho,
o presente maior do que há de amor
entre duas pessoas.
Mas aquilo não era o filho,
aquilo de perto não era nada.
Aos poucos davam-lhe só água,
a porta do quarto ficava sempre fechada.
Até que um dia esqueceram-se dele,
não olharam uma última vez seu
rostinho doente.
Apenas mudaram-se de casa
e deixaram para o festim das baratas
o pobre corpo sem nome.
não tinha um braço e seus
dentes nunca nasceram.
Os olhos quando bons
viam cores, porém, sempre
opacas e embaçadas.
Como tentaram amar aquele monstro,
beijando-lhe a fronte meio amarelada,
todos os dias e todas as noites.
Mesmo com repulsa deram seus dedos
para que a frágil mão os segurassem.
Durante um tempo alimentaram-no
com amor, com zelo.
Depois, só queriam ver de longe
aquele rebento,
pois seu odor de podridão doía-lhes
o nariz e dava náuseas.
Tentaram crer que aquilo era o filho,
o presente maior do que há de amor
entre duas pessoas.
Mas aquilo não era o filho,
aquilo de perto não era nada.
Aos poucos davam-lhe só água,
a porta do quarto ficava sempre fechada.
Até que um dia esqueceram-se dele,
não olharam uma última vez seu
rostinho doente.
Apenas mudaram-se de casa
e deixaram para o festim das baratas
o pobre corpo sem nome.
18/11/2009
A Liberdade
Devo confessar hoje que sempre quis a sua morte. Sempre achei mais fácil que você morresse a viver do meu lado, assim, tão dependente de meu amor e de minha atenção. Não foi difícil aceitar a ideia logo depois que tudo aconteceu e você jazia longe em algum cemitério da cidade. Mas não ache que a construção desse ideal surgiu assim do nada, não. Essa vontade nasceu aos poucos, não foi no primeiro dia em que te vi, nem quando passei a te amar; ela nasceu quando eu percebi que dentro dos teus olhos havia somente um calor, uma vaga emoção de amor com ternura. Essa chama era muito forte pra mim, e foi ai, num daqueles passeios que costumávamos dar, que eu desejei, plenamente, que você morresse.
Quando nos encontramos pela primeira vez senti que podia me apaixonar, que nossas vidas iriam se encaixar aos poucos, como a de muitos outros casais que se apaixonam sem se apaixonar. Acordar cedo ao teu lado era bonito e feliz, preparar o café, preparar o seu café, lhe beijar a fronte e roçar as mãos em seus cabelos eram tarefas prazerosas que aos poucos se tornou uma rotina não muito dolorida. Eu podia viver a rotina, então. Podia ser igual ou melhor a muitas outras mulheres que encaram a tarefa de ser o par de alguém. Pois bem, no fundo nunca quis ser o par. No fundo, quando chegava em casa no fim do dia e seu rosto expressava o mesmo roteiro da manhã eu sentia que a minha construção mental não ia suportar alicerces tão duvidosos.
Pensando bem agora, consigo ver o exato momento que nasceu o desejo da sua morte, sim, foi naquele passeio, pouco antes do acidente. Já era verão e a tarde caia morosa por de trás dos prédios da Faria Lima, eu estava cansada, exausta, melhor dizendo. Meus olhos pendiam soltos na órbita e meus lábios ficaram fechados o tempo todo. Eu te olhava andando à minha frente, brincando com alguns cachorros da praça, rindo solto de tudo o que te rodeada. Como era possível? Como alguém podia sorrir tanto, por tanto tempo? Enquanto eu me questionava, atônita, você continuava vivendo a parte de tudo aquilo, olhando para as árvores, querendo que eu as olhasse também. Você queria que eu participasse daquilo e ao mesmo tempo era impossibilitado de participar do que acontecia comigo, porque tudo era bonito, a tarde era quente, o verão trazia promessas de mar de areia solta.
Eu desejei a sua morte com a mesma intensidade que você vinha na minha direção com seus olhos castanhos e seus cabelos fartos correndo solto por uma cabeça que eu não entendia. Pensei que seria mais fácil assim, uma separação ia ser muito mais dolorosa do que a morte. A morte é inevitável e depois do luto a vida segue, em linha reta, eu teria a certeza de que não te encontraria mais, que não precisaria atender aos seus telefonemas nem pensar que em algum lugar você estaria chorando de saudades, uivando, sonhando com nossos dias passados. Se nos separássemos, eu teria que conviver com os seus pensamentos, com o fardo do seu sofrimento inundando meu escritório, minha cama, o hall da minha casa. Seria mais do que eu posso suportar. A morte é resoluta, não tem mais nem menos e era isso que eu queria.
Pensei em te matar também, tive pensamentos assassinos articulando uma forma de você não sofrer, uma forma rápida, limpa e digna. Na manhã daquele dia, queria ter pressionado o travesseiro contra a sua cabeça enquanto dormia e roncadva ao meu lado ou então comprar aqueles venenos tão famosos e encher seu café preto de chumbo. Pensei em cortar-lhe o pescoço, injetar-lhe éter nas veias, solta-lo em alto mar, sabendo que você não podia nadar. Além de tudo, não podia nadar, não podia sequer ir para uma ilha. Seus traumas de infância me davam nojo.
Acho que no fundo você percebeu o que eu queria. Durante algum tempo, enquanto o desejo da morte crescia, eu senti que você amadureceu, talvez por sofrer um pouco com a minha ausência, com o meu distanciamento, devia sofrer todas as vezes que disse que te amava e um esgar de riso tentava sair da minha boca. Acho também que você buscou a morte só pra me agradar, só pra me dar o prazer de ver o tamanho do seu amor por mim e do que você era capaz pra me deixar feliz. Você entendeu no fim que não podíamos estar juntos e só a morte seria suficiente para deixar tudo bem. Eu desejei profundamente a tua morte, sendo incapaz de te matar, tudo o que podia fazer era esperar esse dia.
E ele veio, tranquilamente, sem nenhum ruido. Engraçado pensar - e por isso acho que você foi seu próprio cúmplice – que você acordou antes de mim naquele dia, o céu estava nublado e o tempo quente e úmido. A sensação era de chuva apesar do céu estar firme. Você se levantou em silêncio e preparou um suco pra mim, duas torradas com ovo e saiu para a rua. Não disse nada, achei estranho você estar tão atento a tudo. Não me olhou na cama nem me disse bom dia. Simplesmente saiu e deixou a porta destrancada, como que dizendo que voltaria em breve.
Eu me levantei e quando abri as cortinas do quarto o sol já estava a pino, era quase onze da manhã e você não havia voltado. Sentei na sala, liguei o celular, cinco chamadas não atendidas. Retornei a ligação e era de uma delegacia perto de casa. “Senhora X, você é a mulher do senhor Y?”. Fiquei quieta demonstrando que sim, eu era. “ Houve uma acidente de carro na av. Paulista e temo que o seu marido não resista aos ferimentos. A senhora deve encontra-lo no hospital H”. Aquilo tudo já não me interessava mais, estava feito. Me demorei no banho, fiz uma demorada escova, esperei o almoço sair e quando já era fim de tarde fui ao hospital para, enfim, me certificar do que havia acontecido. Ferimentos leves, sofreu pouco, hemorragia cerebral, não ia sobreviver de qualquer jeito.
Assinei papéis, avisei teus pais, paguei a conta do hospital e do funeral logo de adiantado. A Paulista a noite me parecia uma avenida mais infinita do que já era. Um grande rombo se abriu no meu peito, chorei algumas lágrimas. Quando entendi o que havia acontecido de fato, a sensação era então de alívio. Voltei pra casa e a sua cara grande e rosada não apareceu pra me festejar, seu corpo não esquentava a cama e pensei que a liberdade completa devia ser aquilo que eu presenciava naquele momento. Me atirei na cama e cerrei meus olhos com força por vários minutos, senti o silêncio mudo e pesado invadir o ambiente, olhei pela janela e a lua estava redonda rindo pra mim. Era a primeira vez em muito tempo que retribui um sorriso verdadeiro. Liberdade era, finalmente, aquilo que eu sentia.
Quando nos encontramos pela primeira vez senti que podia me apaixonar, que nossas vidas iriam se encaixar aos poucos, como a de muitos outros casais que se apaixonam sem se apaixonar. Acordar cedo ao teu lado era bonito e feliz, preparar o café, preparar o seu café, lhe beijar a fronte e roçar as mãos em seus cabelos eram tarefas prazerosas que aos poucos se tornou uma rotina não muito dolorida. Eu podia viver a rotina, então. Podia ser igual ou melhor a muitas outras mulheres que encaram a tarefa de ser o par de alguém. Pois bem, no fundo nunca quis ser o par. No fundo, quando chegava em casa no fim do dia e seu rosto expressava o mesmo roteiro da manhã eu sentia que a minha construção mental não ia suportar alicerces tão duvidosos.
Pensando bem agora, consigo ver o exato momento que nasceu o desejo da sua morte, sim, foi naquele passeio, pouco antes do acidente. Já era verão e a tarde caia morosa por de trás dos prédios da Faria Lima, eu estava cansada, exausta, melhor dizendo. Meus olhos pendiam soltos na órbita e meus lábios ficaram fechados o tempo todo. Eu te olhava andando à minha frente, brincando com alguns cachorros da praça, rindo solto de tudo o que te rodeada. Como era possível? Como alguém podia sorrir tanto, por tanto tempo? Enquanto eu me questionava, atônita, você continuava vivendo a parte de tudo aquilo, olhando para as árvores, querendo que eu as olhasse também. Você queria que eu participasse daquilo e ao mesmo tempo era impossibilitado de participar do que acontecia comigo, porque tudo era bonito, a tarde era quente, o verão trazia promessas de mar de areia solta.
Eu desejei a sua morte com a mesma intensidade que você vinha na minha direção com seus olhos castanhos e seus cabelos fartos correndo solto por uma cabeça que eu não entendia. Pensei que seria mais fácil assim, uma separação ia ser muito mais dolorosa do que a morte. A morte é inevitável e depois do luto a vida segue, em linha reta, eu teria a certeza de que não te encontraria mais, que não precisaria atender aos seus telefonemas nem pensar que em algum lugar você estaria chorando de saudades, uivando, sonhando com nossos dias passados. Se nos separássemos, eu teria que conviver com os seus pensamentos, com o fardo do seu sofrimento inundando meu escritório, minha cama, o hall da minha casa. Seria mais do que eu posso suportar. A morte é resoluta, não tem mais nem menos e era isso que eu queria.
Pensei em te matar também, tive pensamentos assassinos articulando uma forma de você não sofrer, uma forma rápida, limpa e digna. Na manhã daquele dia, queria ter pressionado o travesseiro contra a sua cabeça enquanto dormia e roncadva ao meu lado ou então comprar aqueles venenos tão famosos e encher seu café preto de chumbo. Pensei em cortar-lhe o pescoço, injetar-lhe éter nas veias, solta-lo em alto mar, sabendo que você não podia nadar. Além de tudo, não podia nadar, não podia sequer ir para uma ilha. Seus traumas de infância me davam nojo.
Acho que no fundo você percebeu o que eu queria. Durante algum tempo, enquanto o desejo da morte crescia, eu senti que você amadureceu, talvez por sofrer um pouco com a minha ausência, com o meu distanciamento, devia sofrer todas as vezes que disse que te amava e um esgar de riso tentava sair da minha boca. Acho também que você buscou a morte só pra me agradar, só pra me dar o prazer de ver o tamanho do seu amor por mim e do que você era capaz pra me deixar feliz. Você entendeu no fim que não podíamos estar juntos e só a morte seria suficiente para deixar tudo bem. Eu desejei profundamente a tua morte, sendo incapaz de te matar, tudo o que podia fazer era esperar esse dia.
E ele veio, tranquilamente, sem nenhum ruido. Engraçado pensar - e por isso acho que você foi seu próprio cúmplice – que você acordou antes de mim naquele dia, o céu estava nublado e o tempo quente e úmido. A sensação era de chuva apesar do céu estar firme. Você se levantou em silêncio e preparou um suco pra mim, duas torradas com ovo e saiu para a rua. Não disse nada, achei estranho você estar tão atento a tudo. Não me olhou na cama nem me disse bom dia. Simplesmente saiu e deixou a porta destrancada, como que dizendo que voltaria em breve.
Eu me levantei e quando abri as cortinas do quarto o sol já estava a pino, era quase onze da manhã e você não havia voltado. Sentei na sala, liguei o celular, cinco chamadas não atendidas. Retornei a ligação e era de uma delegacia perto de casa. “Senhora X, você é a mulher do senhor Y?”. Fiquei quieta demonstrando que sim, eu era. “ Houve uma acidente de carro na av. Paulista e temo que o seu marido não resista aos ferimentos. A senhora deve encontra-lo no hospital H”. Aquilo tudo já não me interessava mais, estava feito. Me demorei no banho, fiz uma demorada escova, esperei o almoço sair e quando já era fim de tarde fui ao hospital para, enfim, me certificar do que havia acontecido. Ferimentos leves, sofreu pouco, hemorragia cerebral, não ia sobreviver de qualquer jeito.
Assinei papéis, avisei teus pais, paguei a conta do hospital e do funeral logo de adiantado. A Paulista a noite me parecia uma avenida mais infinita do que já era. Um grande rombo se abriu no meu peito, chorei algumas lágrimas. Quando entendi o que havia acontecido de fato, a sensação era então de alívio. Voltei pra casa e a sua cara grande e rosada não apareceu pra me festejar, seu corpo não esquentava a cama e pensei que a liberdade completa devia ser aquilo que eu presenciava naquele momento. Me atirei na cama e cerrei meus olhos com força por vários minutos, senti o silêncio mudo e pesado invadir o ambiente, olhei pela janela e a lua estava redonda rindo pra mim. Era a primeira vez em muito tempo que retribui um sorriso verdadeiro. Liberdade era, finalmente, aquilo que eu sentia.
21/10/2009
Amizade
Esse sol. Cega os meus olhos.
Um, dois, três velhos sentados em volta de uma mesa comentam sobre temas de velhos. Dentista, o filho do dentista, a alegria de ser um dentista.
Do outro lado um bonitão de sunga torra toda a sua pele, finge que lê um livro na beira da piscina, fala ao celular, blá blá blá etc e tal.
Queria ter alguém aqui do meu lado, tomar uma cerveja, passar protetor nas costas, rir do bonitão que agora resolveu dar um pulo na água e mostrar seus dotes de nadador semi-profi. Certeza que quando chegar aos 43 vai querer participar de algum Iron Man internacional. Tiger, Tiger, quer me ajudar nas cruzadinhas?
Qual é o nome do livro que estou lendo agora? Trópico de Câncer. Meu avô falou que na época este livro fez muito sucesso, quebrou paradigmas, hoje me parece só um enfadonho relato sobre “vulvas”, “fêmeas”, e sexo em hotéis podres e sujos da Paris dos anos 30. Eu o leio antes de dormir. O tédio ajuda a embalar o sono profundo.
Mas do que estava falando mesmo? De nada em particular, mas queria falar de algo...Algo que me incomodou esse dias. Ah claro, o término de uma amizade. Me parece meio pequena esta frase agora. Recebi a noticia num domingo a noite, num agradável momento da minha noite; pipoca na panela, coca gelada, filmes despretensiosos na TV. Olha, eu tô te ligando pra terminar a nossa amizade. Pessoas como você eu dispenso da minha vida. Vida. VIDA. Acho esse conceito de terminar algo tão etéreo muito interessante.
Daí eu pensei em várias coisas, pensei em ligar de volta e mandar tomar no cu, pensei também em escrever um belo email, pensei que, enfim, as pessoas são loucas mesmo, inclusive eu. Mas terminar assim, terminado? Com ponto final? Não, não. Amizade não é uma instituição como um casamento, uma empresa jurídica. Aqui está a rescisão, assine aqui e aqui também por favor.
A amizade funciona como uma matéria social. Namoro ou amizade? Amizade, sempre, a não ser que o cara trepe muito bem. Não. Não se termina uma amizade assim. Ela é uma espécia de gás, não pode ser abatida, nem posta num saco plástico e jogada no rio Tietê. Pra terminar uma amizade é necessário muito mais que isso.
Porque a amizade é maior que o amor, e não to falando isso porque acho bonitinho, mas quando você sai pra tomar uma cerveja com uma pessoa durante anos da sua vida, bem, é maior que amor. Como aqueles casais de 50 anos, já aconteceu de tudo: adultério, pornografia, segunda família, brigas e mais brigas, mas estão juntos, porque não é mais amor, é amizade.
E quando as pessoas atingem o ponto da amizade, existe uma suposta solidez, uma suposta solidez emocional. O amigo, aquela pessoa, ela tem que ser só aquilo. E aceitar e ser aceito, é no amigo que refletimos muitas coisas, existem ligamentos invisíveis que unem as pessoas de uma tal forma que, seria impossível, pela dinâmica natural, serem desligadas. Mas pelo o que entendi, foi.
Nesta mesma dinâmica o amigo deve ser firme, manter o seu posto, ser duro como uma rocha. E cá estou eu, esperando que essa minha pessoa entenda que eu sou sua amiga. Não sou sua comparsa ou até mesmo, sua inimiga mais íntima. Estou aqui em carne e osso esperando calmamente ela se acalmar e voltar a puxar o seu lado da nossa cordinha. E vou esperar o quanto for preciso porque sei que uma amizade não termina assim. Não senhor.
Um, dois, três velhos sentados em volta de uma mesa comentam sobre temas de velhos. Dentista, o filho do dentista, a alegria de ser um dentista.
Do outro lado um bonitão de sunga torra toda a sua pele, finge que lê um livro na beira da piscina, fala ao celular, blá blá blá etc e tal.
Queria ter alguém aqui do meu lado, tomar uma cerveja, passar protetor nas costas, rir do bonitão que agora resolveu dar um pulo na água e mostrar seus dotes de nadador semi-profi. Certeza que quando chegar aos 43 vai querer participar de algum Iron Man internacional. Tiger, Tiger, quer me ajudar nas cruzadinhas?
Qual é o nome do livro que estou lendo agora? Trópico de Câncer. Meu avô falou que na época este livro fez muito sucesso, quebrou paradigmas, hoje me parece só um enfadonho relato sobre “vulvas”, “fêmeas”, e sexo em hotéis podres e sujos da Paris dos anos 30. Eu o leio antes de dormir. O tédio ajuda a embalar o sono profundo.
Mas do que estava falando mesmo? De nada em particular, mas queria falar de algo...Algo que me incomodou esse dias. Ah claro, o término de uma amizade. Me parece meio pequena esta frase agora. Recebi a noticia num domingo a noite, num agradável momento da minha noite; pipoca na panela, coca gelada, filmes despretensiosos na TV. Olha, eu tô te ligando pra terminar a nossa amizade. Pessoas como você eu dispenso da minha vida. Vida. VIDA. Acho esse conceito de terminar algo tão etéreo muito interessante.
Daí eu pensei em várias coisas, pensei em ligar de volta e mandar tomar no cu, pensei também em escrever um belo email, pensei que, enfim, as pessoas são loucas mesmo, inclusive eu. Mas terminar assim, terminado? Com ponto final? Não, não. Amizade não é uma instituição como um casamento, uma empresa jurídica. Aqui está a rescisão, assine aqui e aqui também por favor.
A amizade funciona como uma matéria social. Namoro ou amizade? Amizade, sempre, a não ser que o cara trepe muito bem. Não. Não se termina uma amizade assim. Ela é uma espécia de gás, não pode ser abatida, nem posta num saco plástico e jogada no rio Tietê. Pra terminar uma amizade é necessário muito mais que isso.
Porque a amizade é maior que o amor, e não to falando isso porque acho bonitinho, mas quando você sai pra tomar uma cerveja com uma pessoa durante anos da sua vida, bem, é maior que amor. Como aqueles casais de 50 anos, já aconteceu de tudo: adultério, pornografia, segunda família, brigas e mais brigas, mas estão juntos, porque não é mais amor, é amizade.
E quando as pessoas atingem o ponto da amizade, existe uma suposta solidez, uma suposta solidez emocional. O amigo, aquela pessoa, ela tem que ser só aquilo. E aceitar e ser aceito, é no amigo que refletimos muitas coisas, existem ligamentos invisíveis que unem as pessoas de uma tal forma que, seria impossível, pela dinâmica natural, serem desligadas. Mas pelo o que entendi, foi.
Nesta mesma dinâmica o amigo deve ser firme, manter o seu posto, ser duro como uma rocha. E cá estou eu, esperando que essa minha pessoa entenda que eu sou sua amiga. Não sou sua comparsa ou até mesmo, sua inimiga mais íntima. Estou aqui em carne e osso esperando calmamente ela se acalmar e voltar a puxar o seu lado da nossa cordinha. E vou esperar o quanto for preciso porque sei que uma amizade não termina assim. Não senhor.
14/09/2009
03/09/2009
Houve um tempo em que o amor era somente uma coisa boa. Para os dois era, até então,sentir o calor emanado vir de todas as direções, era sentar num fim de tarde e sorrir para o pôr-do-sol, todo dia mais belo, todo dia mais formoso. Era enfim, amar e ser amado.
Mas daí, aconteceu. Não me lembro se foi apenas dentro do olhar que aquilo cresceu, ou se veio de um outro lugar ainda mais longo e sombrio. Pensando bem, pedaços daquele terremoto estavam espalhados em vários cantos, e um dia, por uma faísca de fogo, eles se concentraram, se uniram e explodiram. Ali na sala, naquele canto verde, bem ali, no finalzinho.
O amor e as trevas possuem a mesma medida e ,se de um lado derrama, acaba esbarrando no outro que, inundando, derrama também. Todo o resto do corpo fica descompensado. As ondas querem sair pela boca, que vai espumando e trazendo junto com a espuma, palavras grandes como tormentas, palavras duras como pedras, pesadas como cimento, afiadas como lâminas. E foi assim, por conta de uma faísca, que o sol daquela tarde se pôs mais depressa e uma nuvem escura e carregada de chuva, avançou sobre o céu de São Paulo.
Por um átimo eles já não eram mais amantes, já não podiam ouvir mais a voz um do outro. Era insuportável o grunhir de raiva, de tristeza, de desapontamento. Mas por quê? Porque existem lugares a onde não se pode entrar duas vezes, ela diria; ao que ele retrucaria respondendo que só o espelho não dá conta de refletir, sozinho, o que realmente somos. Para ela, os erros eram passíveis de esquecimento, mas infelizmente, nem sempre se esquece e rastros ficam voltando à tona, migalhas tortas, que grudam, como aquelas bolas de pelo de gato, que saem do tapete e vão parar na sua blusa.
E por conta de todas essas migalhas coladas umas as outras, ela percebeu quão grande eram os seus erros. Agora esquecer não poderia mais e se tivesse um pote de cola e uma borracha, usaria sem parcimônia no coração do amado. Ai...quanta dor que foi sentida. As palavras mais doces não serviriam para consolar a miséria crescente dele. Se pudesse ela fechar os olhos, tampar a boca e os ouvidos durante todo um dia, se pudesse, se. Mas agora, vendo que também chove nas ruas e não só lá dentro, tudo parece um pouco menor. Agora, que o outro dia amanheceu ensolarado,e o fogo que fora ateado cessou de arder, ela consegue respirar. Ela pode olhar para o seu rosto no espelho e ver um pouco mais do que só pele.
Mas ainda assim ela sabe, só o tempo cura, já diziam, as mazelas de um coração ferido. É difícil entender como funciona os processos do amor. Porque mesmo que ele seja grande, ainda assim é capaz de acabar tão mais rápido quanto nasceu, e o outro, perdido na guerra, se vê abandonado na imensidão daquele sentimento, sem poder dizer pra ninguém, que tem medo da solidão.
Aliás, solidão é do que ela mais tem medo. Nesses tempo, onde as pessoas não querem mais ouvir umas as outras, o ombro do querido amado é o seu grande divã. Mesmo que pra poder falar o que sente, ainda é preciso um caderno, e ela vai escrever pra ele uma carta de amor. Mais ou menos como aquelas que antigamente se escreviam para o grande amor que estava no front de guerra. “ Amor meu, ainda estou aqui, te esperando. Não morra. A sua torta preferida, ainda está na janela...”
Mas daí, aconteceu. Não me lembro se foi apenas dentro do olhar que aquilo cresceu, ou se veio de um outro lugar ainda mais longo e sombrio. Pensando bem, pedaços daquele terremoto estavam espalhados em vários cantos, e um dia, por uma faísca de fogo, eles se concentraram, se uniram e explodiram. Ali na sala, naquele canto verde, bem ali, no finalzinho.
O amor e as trevas possuem a mesma medida e ,se de um lado derrama, acaba esbarrando no outro que, inundando, derrama também. Todo o resto do corpo fica descompensado. As ondas querem sair pela boca, que vai espumando e trazendo junto com a espuma, palavras grandes como tormentas, palavras duras como pedras, pesadas como cimento, afiadas como lâminas. E foi assim, por conta de uma faísca, que o sol daquela tarde se pôs mais depressa e uma nuvem escura e carregada de chuva, avançou sobre o céu de São Paulo.
Por um átimo eles já não eram mais amantes, já não podiam ouvir mais a voz um do outro. Era insuportável o grunhir de raiva, de tristeza, de desapontamento. Mas por quê? Porque existem lugares a onde não se pode entrar duas vezes, ela diria; ao que ele retrucaria respondendo que só o espelho não dá conta de refletir, sozinho, o que realmente somos. Para ela, os erros eram passíveis de esquecimento, mas infelizmente, nem sempre se esquece e rastros ficam voltando à tona, migalhas tortas, que grudam, como aquelas bolas de pelo de gato, que saem do tapete e vão parar na sua blusa.
E por conta de todas essas migalhas coladas umas as outras, ela percebeu quão grande eram os seus erros. Agora esquecer não poderia mais e se tivesse um pote de cola e uma borracha, usaria sem parcimônia no coração do amado. Ai...quanta dor que foi sentida. As palavras mais doces não serviriam para consolar a miséria crescente dele. Se pudesse ela fechar os olhos, tampar a boca e os ouvidos durante todo um dia, se pudesse, se. Mas agora, vendo que também chove nas ruas e não só lá dentro, tudo parece um pouco menor. Agora, que o outro dia amanheceu ensolarado,e o fogo que fora ateado cessou de arder, ela consegue respirar. Ela pode olhar para o seu rosto no espelho e ver um pouco mais do que só pele.
Mas ainda assim ela sabe, só o tempo cura, já diziam, as mazelas de um coração ferido. É difícil entender como funciona os processos do amor. Porque mesmo que ele seja grande, ainda assim é capaz de acabar tão mais rápido quanto nasceu, e o outro, perdido na guerra, se vê abandonado na imensidão daquele sentimento, sem poder dizer pra ninguém, que tem medo da solidão.
Aliás, solidão é do que ela mais tem medo. Nesses tempo, onde as pessoas não querem mais ouvir umas as outras, o ombro do querido amado é o seu grande divã. Mesmo que pra poder falar o que sente, ainda é preciso um caderno, e ela vai escrever pra ele uma carta de amor. Mais ou menos como aquelas que antigamente se escreviam para o grande amor que estava no front de guerra. “ Amor meu, ainda estou aqui, te esperando. Não morra. A sua torta preferida, ainda está na janela...”
24/08/2009
Inspiração
Venha,
a inspiração é sempre bem vinda.
O som das palavras não me intimida,
e por isso sou poeta
sou pura poesia.
Se precisar de uma rima
ela vem sem pressa.
A palavra deve ser bem usada
nunca dura, ou severa.
Pode ser poeminhas
de amor
de amizade
de comida
de pessoas
da vida
A inspiração
é
sempre.
Tudo que ela me dá,
eu aceito veemente.
De mim nunca tirou nada,
e entre virgulas e pontos,
ela mostra o caminho.
Não é simples linha reta,
veja bem, a inspiração
não é meta.
É desejo e ar,
é feita de sonhos e de coisas
etéreas.
A inspiração é sempre ela.
E eu sinto a sua presença
pesando em meus ombros,
entrando pela minha testa,
expandindo dentro da minha cabeça.
E mesmo que o poema
seja assim meio sem pé
nem cabeça.
Sem métrica
e sem regra.
Ainda assim eu posso dizer
sou poeta
e a inspiração
é
para sempre
a única coisa que me
resta.
a inspiração é sempre bem vinda.
O som das palavras não me intimida,
e por isso sou poeta
sou pura poesia.
Se precisar de uma rima
ela vem sem pressa.
A palavra deve ser bem usada
nunca dura, ou severa.
Pode ser poeminhas
de amor
de amizade
de comida
de pessoas
da vida
A inspiração
é
sempre.
Tudo que ela me dá,
eu aceito veemente.
De mim nunca tirou nada,
e entre virgulas e pontos,
ela mostra o caminho.
Não é simples linha reta,
veja bem, a inspiração
não é meta.
É desejo e ar,
é feita de sonhos e de coisas
etéreas.
A inspiração é sempre ela.
E eu sinto a sua presença
pesando em meus ombros,
entrando pela minha testa,
expandindo dentro da minha cabeça.
E mesmo que o poema
seja assim meio sem pé
nem cabeça.
Sem métrica
e sem regra.
Ainda assim eu posso dizer
sou poeta
e a inspiração
é
para sempre
a única coisa que me
resta.
14/04/2009
Ode Ao Amor
Eu amo
Vivo na intensidade do amor presente
Eu vivo ele diariamente
Constante ele queima
Por dentro
Eu amo
Ainda hoje e sempre amanhã
Mesmo sem serenidade, eu amo
O fogo que arde é verdadeiro
Amo por inteiro e incessantemente
Eu amo
E a dor que é, não dói.
E se não há, corrói.
Eu sei, porque amo.
E sem o amor eu não seria
Não existiria uma outra metade minha
Eu amo
Sou completa e só assim eu vivo
Amo agora
E amo indivisível
Não há somatórias, só amor
Bruto e concreto, insolúvel.
Amo como posso
Amo com o que tenho
Amo porque não temo
Aqui dentro é só amor
E é só ao amor a quem pertenço.
Vivo na intensidade do amor presente
Eu vivo ele diariamente
Constante ele queima
Por dentro
Eu amo
Ainda hoje e sempre amanhã
Mesmo sem serenidade, eu amo
O fogo que arde é verdadeiro
Amo por inteiro e incessantemente
Eu amo
E a dor que é, não dói.
E se não há, corrói.
Eu sei, porque amo.
E sem o amor eu não seria
Não existiria uma outra metade minha
Eu amo
Sou completa e só assim eu vivo
Amo agora
E amo indivisível
Não há somatórias, só amor
Bruto e concreto, insolúvel.
Amo como posso
Amo com o que tenho
Amo porque não temo
Aqui dentro é só amor
E é só ao amor a quem pertenço.
26/03/2009
A Rã Cinza
Rãzinha bonitinha
Tem uma cara engraçada
Boca grande, quase farta
Quase não fala quando na água
Ela é uma rã cinza
Da pele lisa e macia
As largas falanges das patas
Seguram as pedras enquanto
Observa os dois mosquitos verdes
E com os seus olhos escuros hipnotiza
Nenhum inseto foge a sua língua
Mas é só um leão rugir
Que a rãzinha fica ranzinza
Fecha a cara e nem coachar ela quer
Mas isso dura pouco,
Logo logo quando o sol arde
Lá está ela pelo parque
Pulando de pedra em pedra
Exibindo todo o seu dorso
Esticando as patas e beijando outros sapinhos
Essa rã é um barato
E eu que nem em anfibios me amarro
Simpatizei com o tal bicho
A ponto de querer virar eu mesma
Uma joaninha um besouro ou ratinho
E sentar numa folha perto dela
Só pra ser a sua amiga.
Tem uma cara engraçada
Boca grande, quase farta
Quase não fala quando na água
Ela é uma rã cinza
Da pele lisa e macia
As largas falanges das patas
Seguram as pedras enquanto
Observa os dois mosquitos verdes
E com os seus olhos escuros hipnotiza
Nenhum inseto foge a sua língua
Mas é só um leão rugir
Que a rãzinha fica ranzinza
Fecha a cara e nem coachar ela quer
Mas isso dura pouco,
Logo logo quando o sol arde
Lá está ela pelo parque
Pulando de pedra em pedra
Exibindo todo o seu dorso
Esticando as patas e beijando outros sapinhos
Essa rã é um barato
E eu que nem em anfibios me amarro
Simpatizei com o tal bicho
A ponto de querer virar eu mesma
Uma joaninha um besouro ou ratinho
E sentar numa folha perto dela
Só pra ser a sua amiga.
13/03/2009
Anatomia do ser ontológico
São tantos os olhos abertos
E muitas as bocas parlantes
São dedos em riste apontando
o onde, a onde ou quando.
Ouvidos há muito atentos
Em volta das cabeças pensantes
E dentro pensamentos estranhos
O que pensam não importa,
O que importa é o restante.
Nos pés cicatrizes
Logo dois correndo em linha
E os joelhos arcados e doloridos
Balançam a frágil bacia.
E no estômago, universo do vazio
Arde em chamas quando atiçado
Sentimentos quentes ou frios
De acordo com o dia e o quadro.
A lingua, molhada tensiona
Os dentes pra dentro e pra fora
Se movimenta como ondas
Nas costas, na nuca, nas coxas.
E dentro do peito, a pedra.
Mineral alado e pulsante
Esfarela-se quando apertado
Dissolvendo-se no meu restante.
E muitas as bocas parlantes
São dedos em riste apontando
o onde, a onde ou quando.
Ouvidos há muito atentos
Em volta das cabeças pensantes
E dentro pensamentos estranhos
O que pensam não importa,
O que importa é o restante.
Nos pés cicatrizes
Logo dois correndo em linha
E os joelhos arcados e doloridos
Balançam a frágil bacia.
E no estômago, universo do vazio
Arde em chamas quando atiçado
Sentimentos quentes ou frios
De acordo com o dia e o quadro.
A lingua, molhada tensiona
Os dentes pra dentro e pra fora
Se movimenta como ondas
Nas costas, na nuca, nas coxas.
E dentro do peito, a pedra.
Mineral alado e pulsante
Esfarela-se quando apertado
Dissolvendo-se no meu restante.
09/02/2009
Ensaio
É preciso escrever. Para se entender os desejos, para que os outros leiam e os entendam. É preciso escrever para elucidar os maiores mistérios do coração, só assim, desdobrando as palavras que voam pela cabeça é possível compreender e ser compreendido. O amor deve ser escrito, o desejo deve ser escrito, as pessoas, tão singulares, devem ser escritas.
Mas elas nunca querem. Nunca querem ser um personagem no papel. É intrusivo, eu sei, mas como poder explicar e definir a tênue linha que separa o eu verdadeiro do eu poético? Como dizer a alguém o que se sente com tantas palavras saindo pela boca, com os olhos nos olhos? Elas não acreditam. Não aceitam a possibilidade de serem pensadas e repensadas. As pessoas não são personagens, e por isso relutam em participar das histórias que escrevo.
Eu ainda te amo. Foi culpa minha te deixar ir. Eu sei que você não quer partir meu coração. Me perdoe. Eu ainda vou te roubar pra mim, você vai ver. Hoje acordei e percebi que havia caído da cama. Je t’aime encore. Je t’aime toujour.
Só as palavras sabem a essência do desejo. Porque elas não precisam do corpo para provar a sua veracidade. Elas vem de um lugar distante, de trás do cérebro, de baixo da língua, elas vem do âmago, do centro do peito.
A poesia liberta e com ela é possível alcançar o coração daquele outro distante. É poder dizer, em cada parágrafo, coisas que os olhos não podem ver, coisas que os ouvidos não podem ouvir. Nem o sussurro do amante tem tanto poder. Nem a lágrima mais chorosa alivia a dor. É preciso escrever e dizer letra por letra o que não pode ser dito nas entre linhas. São mensagens diretas, e o alvo nem sempre é aquele que acha que é.
Escrevo não para alimentar o ego daquele que ponho no papel, escrevo para alimentar a minha alma. Porque só existe uma pessoa. Só existe o eu. As pessoas deixam pistas, frases soltas, caras engraçadas. Mas tudo isso não é para elas, quando escrevo sobre elas é para mim mesma que escrevo. Sou eu que preciso ver a alma, e escrever alivia a tensão do pensamento. Posso dormir melhor. Dormir e sonhar.
Você é o meu melhor amigo. Você é incrível. Você é lindo. Quando eu morrer, você vai chorar? Eu falo com Deus todas as noites. Morro de saudades, mas não voltarei tão cedo. Eu posso te perdoar, mas preciso saber, se você precisa do meu perdão. Eu preciso.
Escrever é preciso. O escritor alcança a eternidade quando consegue sublimar suas idéias, quando o poema rima e até quando escreve uma carta de amor que nunca será lida. O papel é o lugar comum da ficção e da realidade, onde elas podem conviver sem conflitos. Quem escreve exorciza, expurga o mal que devora por dentro.
Quem escreve vive tudo o que tem para ser vivido, pois só ali, onde o tempo não opera, é que vive o poeta. Lá eu não morrerei nunca.
Mas elas nunca querem. Nunca querem ser um personagem no papel. É intrusivo, eu sei, mas como poder explicar e definir a tênue linha que separa o eu verdadeiro do eu poético? Como dizer a alguém o que se sente com tantas palavras saindo pela boca, com os olhos nos olhos? Elas não acreditam. Não aceitam a possibilidade de serem pensadas e repensadas. As pessoas não são personagens, e por isso relutam em participar das histórias que escrevo.
Eu ainda te amo. Foi culpa minha te deixar ir. Eu sei que você não quer partir meu coração. Me perdoe. Eu ainda vou te roubar pra mim, você vai ver. Hoje acordei e percebi que havia caído da cama. Je t’aime encore. Je t’aime toujour.
Só as palavras sabem a essência do desejo. Porque elas não precisam do corpo para provar a sua veracidade. Elas vem de um lugar distante, de trás do cérebro, de baixo da língua, elas vem do âmago, do centro do peito.
A poesia liberta e com ela é possível alcançar o coração daquele outro distante. É poder dizer, em cada parágrafo, coisas que os olhos não podem ver, coisas que os ouvidos não podem ouvir. Nem o sussurro do amante tem tanto poder. Nem a lágrima mais chorosa alivia a dor. É preciso escrever e dizer letra por letra o que não pode ser dito nas entre linhas. São mensagens diretas, e o alvo nem sempre é aquele que acha que é.
Escrevo não para alimentar o ego daquele que ponho no papel, escrevo para alimentar a minha alma. Porque só existe uma pessoa. Só existe o eu. As pessoas deixam pistas, frases soltas, caras engraçadas. Mas tudo isso não é para elas, quando escrevo sobre elas é para mim mesma que escrevo. Sou eu que preciso ver a alma, e escrever alivia a tensão do pensamento. Posso dormir melhor. Dormir e sonhar.
Você é o meu melhor amigo. Você é incrível. Você é lindo. Quando eu morrer, você vai chorar? Eu falo com Deus todas as noites. Morro de saudades, mas não voltarei tão cedo. Eu posso te perdoar, mas preciso saber, se você precisa do meu perdão. Eu preciso.
Escrever é preciso. O escritor alcança a eternidade quando consegue sublimar suas idéias, quando o poema rima e até quando escreve uma carta de amor que nunca será lida. O papel é o lugar comum da ficção e da realidade, onde elas podem conviver sem conflitos. Quem escreve exorciza, expurga o mal que devora por dentro.
Quem escreve vive tudo o que tem para ser vivido, pois só ali, onde o tempo não opera, é que vive o poeta. Lá eu não morrerei nunca.
04/02/2009
Pequenos encontros
O verdadeiro encontro aconteceu quando ela acordou ao seu lado e pode enfim olhar com calma aquele corpo imóvel sem que ele falasse, retrucasse, pensasse. Ela pensou por um segundo que o amor podia ser assim, sempre. Um corpo estendido onde se pudesse desenhar em canetas coloridas grandes corações vermelhos. Chegou mais perto de seu rosto e quase encostou a sua pálpebra na dele, ficou assim um tempo de olhos abertos, vendo os poros de seu nariz, sentindo o ar morno saindo pela boca. “Este é o homem mais bonito que já vi”. Com seu celular tirou uma foto dele dormindo. Queria guardar pra sempre aquele rosto, mesmo que não fosse amor.
02/02/2009
30/01/2009
Insônia
Insônia
É minha sócia
Cedo se assenta na minha sombra
Sinto seu peso cessar
Meus sonhos
Sina de manter-me desperta
Com ela ao meu lado
Fazendo troça do meu ser
Tece teia nos meus olhos
Insones
Nas minhas pálpebras se senta
Sabe que eu não posso detê-la
Insônia
Malvada sina dos nervosos
Amiga da ânsia
Comparsa das estrelas
Quer meus olhos sempre abertos
Mirando o tempo da noite
Sem piscar
Amanheço sem amanhecer
E peço que nesta noite
Ela não venha me acolher.
É minha sócia
Cedo se assenta na minha sombra
Sinto seu peso cessar
Meus sonhos
Sina de manter-me desperta
Com ela ao meu lado
Fazendo troça do meu ser
Tece teia nos meus olhos
Insones
Nas minhas pálpebras se senta
Sabe que eu não posso detê-la
Insônia
Malvada sina dos nervosos
Amiga da ânsia
Comparsa das estrelas
Quer meus olhos sempre abertos
Mirando o tempo da noite
Sem piscar
Amanheço sem amanhecer
E peço que nesta noite
Ela não venha me acolher.
28/01/2009
De Rafael para Paloma
Arquivo achado no tempo:
19.dez.2004
Ah, ela voa....ela voa e não me engana...
os pássaros em seus ombros são como escombros
Uma janela atravessada...
uma figura resguardada do tempo
Asas estáticas
Mas ELA, ela mesma, vôa!
Branca pomba...brancas pombas
Ratos de asas
Anjos
Morcegos
Caças protetores
Todos eles voam, mas não, jamais como ela
Como ela apenas em casos deliberdade deliberada....extrema
Alada....
as asas poderás ouvir se tocar sua pele
poderas sentir se ouvir sua transpiração
pequenas grandes asas com as quais vôa
e se chama pavôa pelas cores de suas penas
e pelo calor por entre suas pernas
diz que dói amar
Diz que dói o prazer
e o entrega tão sutil e sublime como o toque de fria agulha na pele
Sangue na língua
furo no peito
O Amor matou seu filho, O Eleito
queimamos as cruzes
apagamos as luzes
acendemos as tochas
firmes como rochas
fluindo como água
jamais pediremos trégua
jamais cagaremos regras
pois nunca as engolimos
recebemos do alto o prazer
merecemos do fundo a dor
entregues sublimes ao acaso
mordendo o fruto e tecendo o pecado
com os fios da razão
em nosso avesso corpo, coração
e nada, nada disso jamais será à toa!
Além da fugacidade dos acontecimentos
e da impermanência da existência!!!
O momento é impresso na memória sem tempo do infinito
E posso garantir, olhando para os céus e
rindo-me loucamente diante do abismo
no qual traço meu caminho!
Desde os palácios suntuosos de origens ancestrais
à prepotência simplista de Roma
Seu nome é PALOMA, e garanto....
ELA VÔA!!!!
19.dez.2004
Ah, ela voa....ela voa e não me engana...
os pássaros em seus ombros são como escombros
Uma janela atravessada...
uma figura resguardada do tempo
Asas estáticas
Mas ELA, ela mesma, vôa!
Branca pomba...brancas pombas
Ratos de asas
Anjos
Morcegos
Caças protetores
Todos eles voam, mas não, jamais como ela
Como ela apenas em casos deliberdade deliberada....extrema
Alada....
as asas poderás ouvir se tocar sua pele
poderas sentir se ouvir sua transpiração
pequenas grandes asas com as quais vôa
e se chama pavôa pelas cores de suas penas
e pelo calor por entre suas pernas
diz que dói amar
Diz que dói o prazer
e o entrega tão sutil e sublime como o toque de fria agulha na pele
Sangue na língua
furo no peito
O Amor matou seu filho, O Eleito
queimamos as cruzes
apagamos as luzes
acendemos as tochas
firmes como rochas
fluindo como água
jamais pediremos trégua
jamais cagaremos regras
pois nunca as engolimos
recebemos do alto o prazer
merecemos do fundo a dor
entregues sublimes ao acaso
mordendo o fruto e tecendo o pecado
com os fios da razão
em nosso avesso corpo, coração
e nada, nada disso jamais será à toa!
Além da fugacidade dos acontecimentos
e da impermanência da existência!!!
O momento é impresso na memória sem tempo do infinito
E posso garantir, olhando para os céus e
rindo-me loucamente diante do abismo
no qual traço meu caminho!
Desde os palácios suntuosos de origens ancestrais
à prepotência simplista de Roma
Seu nome é PALOMA, e garanto....
ELA VÔA!!!!
27/01/2009
A Menina Semente
Algumas coisas na vida vêem assim para ela, se parecem com pequenas estações. Pequenos outonos em amarelo chá, manchando a copa das árvores de seu jardim. E as folhas, ligadas tão suave e docilmente pelos seus caules que um vento leve pode solta-las dos galhos para preguiçosas morrerem na grama.
Estação da mudança interna, renovação para a verdadeira primavera escondida em sementes. Com um de seus dedos molha os lábios com mel e pimenta, deixar escorrer pelo canto do rosto uma lágrima dourada e doce. Olinhos de olivas, fechados contra o sol fraco da tarde. Ela ainda não sabe o que procura. Mas quer intensamente sentir o sabor desta tarde, tão única.
É muito rápida a vida, então respira fundo e segura o ar em seus pulmões aveludados, tarde sabor de avelã. Como parar o tempo? Se pergunta. Tudo podia ser sempre verão, areia fofa numa praia linda e deserta. Quando se dá conta mais um dia se passou, mas não vai chorar dessa vez, não é?
O que sente é a presença esmagadora e divina do mundo contra suas costas, suas pintas rosinhas se contraem e ficam vermelhas, se juntam formando desenhos desordenados na sua pele de leite. Sente-se cada vez mais sufocada com a pressão, seu rosto também se torna rosa, os pensamentos se anuviam e ela enfim cai profundamente por cima das folhas.
Sonha que tomava um chá de sabor intenso, sabor de grama molhada. Ela ria alto e dizia para uma outra pessoa que poderia simplesmente escolher qualquer um daqueles bombons, que tudo bem não saber afinal se iria gostar ou não, o importante era morde-los bem devagar, sugando aos poucos o licor de seu recheio, sorver devagar e deixar que o sabor se alastra pela língua toda, pela garganta. Ela acha graça na arte de se comer bombons.
Quando acorda já é noite, o mistério das estrelas reluz mil anos luz de sua cabeça. Ainda é outono, caminhando pelo pátio consegue ver na contra luz os galhos despidos, a cada passo o barulinho da secura crocante sob seus pés a faz sentir um pouco de medo e tristeza. É triste ser um galho seco, seria triste morrer nua, sem folhas nem flores.
Agora ela já sabe o que quer, na verdade, gostaria de não morrer nunca, como uma árvore milenar. Eternamente dando frutos e sementes e mais árvores. Povoar o mundo com a eternidade vegetal e orgânica. Tronco em riste olhando para o céu, buscando o calor do sol para alimentar a sua seiva, enfiar as suas raízes para o fundo da terra procurando a água fria, ser abrigo e alimento da fauna e dos homens. E poder ficar no seu silencio despretensiosamente vendo as estações passarem ao sabor das eras.
Decide então com as mãos cavar um pequeno buraco, começou enfiando uma só mão na terra fofa e depois a outra, e depois a outra e a outra novamente, sem parar e conforme cava a terra foi ficando mais úmida, mais perfumada e mais escura.
Quando termina já é quase de manhã, percebe que o buraco é grande o suficiente para que caiba seu corpo todo, deita então no leito, por cima de si coloca algumas folhas e alguns galhos, busca com as mãos pedrinhas para cobrir seus olhos, sua boca e seus ouvidos. Ao poucos se cobre com toda a terra até desaparecer da superfície.
Esta tudo bem agora, é tudo tranqüilidade e paz. Finalmente seria como as outras árvores. Ela não sabe, mas na estação seguinte renasceu como um pessegueiro muito macio e doce.
Estação da mudança interna, renovação para a verdadeira primavera escondida em sementes. Com um de seus dedos molha os lábios com mel e pimenta, deixar escorrer pelo canto do rosto uma lágrima dourada e doce. Olinhos de olivas, fechados contra o sol fraco da tarde. Ela ainda não sabe o que procura. Mas quer intensamente sentir o sabor desta tarde, tão única.
É muito rápida a vida, então respira fundo e segura o ar em seus pulmões aveludados, tarde sabor de avelã. Como parar o tempo? Se pergunta. Tudo podia ser sempre verão, areia fofa numa praia linda e deserta. Quando se dá conta mais um dia se passou, mas não vai chorar dessa vez, não é?
O que sente é a presença esmagadora e divina do mundo contra suas costas, suas pintas rosinhas se contraem e ficam vermelhas, se juntam formando desenhos desordenados na sua pele de leite. Sente-se cada vez mais sufocada com a pressão, seu rosto também se torna rosa, os pensamentos se anuviam e ela enfim cai profundamente por cima das folhas.
Sonha que tomava um chá de sabor intenso, sabor de grama molhada. Ela ria alto e dizia para uma outra pessoa que poderia simplesmente escolher qualquer um daqueles bombons, que tudo bem não saber afinal se iria gostar ou não, o importante era morde-los bem devagar, sugando aos poucos o licor de seu recheio, sorver devagar e deixar que o sabor se alastra pela língua toda, pela garganta. Ela acha graça na arte de se comer bombons.
Quando acorda já é noite, o mistério das estrelas reluz mil anos luz de sua cabeça. Ainda é outono, caminhando pelo pátio consegue ver na contra luz os galhos despidos, a cada passo o barulinho da secura crocante sob seus pés a faz sentir um pouco de medo e tristeza. É triste ser um galho seco, seria triste morrer nua, sem folhas nem flores.
Agora ela já sabe o que quer, na verdade, gostaria de não morrer nunca, como uma árvore milenar. Eternamente dando frutos e sementes e mais árvores. Povoar o mundo com a eternidade vegetal e orgânica. Tronco em riste olhando para o céu, buscando o calor do sol para alimentar a sua seiva, enfiar as suas raízes para o fundo da terra procurando a água fria, ser abrigo e alimento da fauna e dos homens. E poder ficar no seu silencio despretensiosamente vendo as estações passarem ao sabor das eras.
Decide então com as mãos cavar um pequeno buraco, começou enfiando uma só mão na terra fofa e depois a outra, e depois a outra e a outra novamente, sem parar e conforme cava a terra foi ficando mais úmida, mais perfumada e mais escura.
Quando termina já é quase de manhã, percebe que o buraco é grande o suficiente para que caiba seu corpo todo, deita então no leito, por cima de si coloca algumas folhas e alguns galhos, busca com as mãos pedrinhas para cobrir seus olhos, sua boca e seus ouvidos. Ao poucos se cobre com toda a terra até desaparecer da superfície.
Esta tudo bem agora, é tudo tranqüilidade e paz. Finalmente seria como as outras árvores. Ela não sabe, mas na estação seguinte renasceu como um pessegueiro muito macio e doce.
25/01/2009
Vidas Ordinárias VIII
Ou a História de um relacionamento a dois.
Eles se encontram e : Trepas fodas todo os dias o dia todo > Paixão > Sexo animal cinco vezes por semana> amor > casamento > amor três vezes por semana > filmes só de domingo> amor só de quarta > filmes de sexta a domingo> novelas todos os dias> sexo uma vez a cada quinze dias >um cachorro> um gato> três filhos> uma TV nova >uma amante nova > um personal trainer novo > um divórcio e foram viver felizes para sempre.
Fim.
Eles se encontram e : Trepas fodas todo os dias o dia todo > Paixão > Sexo animal cinco vezes por semana> amor > casamento > amor três vezes por semana > filmes só de domingo> amor só de quarta > filmes de sexta a domingo> novelas todos os dias> sexo uma vez a cada quinze dias >um cachorro> um gato> três filhos> uma TV nova >uma amante nova > um personal trainer novo > um divórcio e foram viver felizes para sempre.
Fim.
20/01/2009
Vidas Ordinárias VII
Pedrinho é viciado em video game. Nunca namorou e sabe que essas coisas de gente, são muito complicadas. Uma vez, conheceu uma menina no MSN, ficou tão excitado com a idéia de que poderia fornicar na vida real, que seu banho, esta noite, durou mais que o habitual. Sua mãe, coitada, além de se chamar Neida, um nome um tanto incomum, já tentou seu filho com livros sobre ficção, romances, literatura juvenil. Tudo em vão. Pedrinho fica no vídeo game e sua página no Orkut só tem garotos do RPG. Deprimida, a pobre da mãe experimentou de tudo, psicologia, filosofia e até a bíblia, a que Pedrinho, sem piedade no ardor de sua juventude, questionou –obviamente- o seu maior mistério: que Maria, sem nenhuma foda, engravidou do messias
Hoje é apenas uma terça feira e o peso do tédio corre no ar pesado de chuva, eu sei que tudo o que posso fazer é deixar tecer por meios incompreensíveis a história do meu dia, pois não há nada mais enfadonho do que buscar concorrer com a vida agitada dos urbaholics, agitadores de esquinas, pontos de ônibus lotados e tudo que se repete ad nauseum. Inclusive me é mais que amiga a idéia de me mudar para um mundo mais particular, um lugar onde o tempo não chegue e eu possa discorrer sobre todas estas idéias sem me preocupar em preocupar alguém.
Só existe uma possibilidade real, uma nova pessoa deve nascer dos escombros da criação. E romper meu método, me tirando da embriaguez e da sonolência em que me encontro. E será ela quem irá traçar, nas linhas do dia a dia, a tônica da sobrevivência literária, será a célula inteligente do processo quotidiano. Me libertará todas as manhãs saber que a transformação pode ser efetuada a qualquer minuto e quando eu quiser minha persona sairá não só de minha cabeça mas de meu coração e vai trilhar, impetuosamente, os caminhos que o destino lhe impôs, desde já, antes de seu nascimento, sua sina será traçada a ferro e fogo.
Só existe uma possibilidade real, uma nova pessoa deve nascer dos escombros da criação. E romper meu método, me tirando da embriaguez e da sonolência em que me encontro. E será ela quem irá traçar, nas linhas do dia a dia, a tônica da sobrevivência literária, será a célula inteligente do processo quotidiano. Me libertará todas as manhãs saber que a transformação pode ser efetuada a qualquer minuto e quando eu quiser minha persona sairá não só de minha cabeça mas de meu coração e vai trilhar, impetuosamente, os caminhos que o destino lhe impôs, desde já, antes de seu nascimento, sua sina será traçada a ferro e fogo.
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