tag:blogger.com,1999:blog-84300302024-03-14T04:10:45.751-03:00OrganoN.::.Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.comBlogger151125tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-87289273548875571482010-04-29T14:24:00.005-03:002010-04-29T14:27:01.773-03:00BrigasToda vez que a gente briga<br />
Eu me sinto feia<br />
Me sinto inútil.<br />
<br />
Toda vez que a gente briga<br />
Minha alegria vira lágrimas<br />
E pinta o dia de cinza.<br />
<br />
Toda vez que a gente briga<br />
Uma mão grande arranca<br />
De dentro da minha barriga<br />
Um pedaço do meu amor.<br />
<br />
Eu me sinto menor<br />
E mais frágil<br />
<br />
Me sinto só.<br />
<br />
Toda vez é a mesma vez<br />
É a mesma briga<br />
É a mesma dor.<br />
<br />
É só dor.<br />
<br />
Dói muito por dentro.<br />
<br />
Toda vez que a gente briga<br />
Fico calada e sombria<br />
Fico desinteressada.<br />
<br />
Toda vez que a gente<br />
Se desliga<br />
Sobra um lado da linha<br />
No vão.<br />
<br />
Toda vez<br />
É só chão<br />
<br />
Um imenso caminho vazio.<br />
<br />
Tudo fica miúdo<br />
E cabe numa caixa de fósforos.<br />
<br />
Tudo fica mudo.<br />
<br />
Fica só eu.<br />
Sem você.<br />
<br />
Fico ímpar.<br />
<br />
.Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-31006976284319040562010-04-20T16:13:00.000-03:002010-04-20T16:14:10.538-03:00Resolução VIIIEscutar mais as vozes da minha cabeça.Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-67455178691646804572010-01-21T12:50:00.000-02:002010-01-21T12:51:02.102-02:00IminênciaMe sinto na iminência de novo<br />Os ventos me empurram para o abismo<br />e as cordas que me seguravam já não<br />dão mais conta da tração<br />A vertigem me puxa pra baixo<br />de novo, não posso olhar para o chão<br />Nada pode me segurar agora<br />Nada pode deter em mim essa sensação<br />Não há consolo<br />Nem uma mão<br />Que segure meus pés firmes<br />Que segure meus cabelos<br />Os ventos urgem em me derrubar<br />Eu sei, contra a natureza somos<br />inúteis<br />Meu coração não quer acreditar<br />Mas estou na iminência<br />Meu corpo cede aos poucos<br />Minhas forças se esvaíram<br />Deixe, deixe te levar<br />Eu escuto<br />Deixe, deixe o tempo se encarregar<br />Queria ser surda<br />Queria ser cega<br />Soltar o corpo na queda e ir rumo<br />as profundezas desconhecidas<br />Ser engolida de uma vez abaixo<br />da superfície serena da razão<br />Ficar no silêncio e na escuridão<br />Na calma monotonia das tardes<br />Na certeza do não-acontecimento<br />Dormir serena longe desses ventos<br />Eu queria<br />Parar de sacudir ao bel-prazer da vida<br />Estou na iminência de novo<br />Meu corpo é só peso<br />Só chumbo e prata<br />Tento me arrastar para longe dessa borda<br />Mas do outro lado, que ironia<br />Já não existe mais a porta<br />É só daqui pra frente<br />Então vá, eu escuto<br />A linha é sempre reta<br />Nunca como uma serpente<br />Não se desengane<br />Agora é cara ou coroa<br />papel ou pedra.Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-8424004742607245352010-01-18T20:37:00.001-02:002010-01-18T20:37:53.032-02:00Fobias<span style="font-family: verdana;">Eu tenho medo de andar de havaianas em São Paulo</span><br /><span style="font-family: verdana;">Tenho medo de inundar minha casa </span><br /><span style="font-family: verdana;">Tenho medo de ser assaltada e assassinada</span><br /><span style="font-family: verdana;">Tenho medo de ser parada por policiais na blitz</span><br /><span style="font-family: verdana;">Tenho medo de andar a pé</span><br /><span style="font-family: verdana;">Tenho medo dos estranhos</span><br /><span style="font-family: verdana;">Dos mendigos na rua</span><br /><span style="font-family: verdana;">De me perder na cracolândia de madrugada</span><br /><span style="font-family: verdana;">Tenho medo de bater o carro na esquina de casa</span><br /><span style="font-family: verdana;">Tenho medo de usar jóias</span><br /><span style="font-family: verdana;">Tenho medo de tomar chuva ácida na cidade</span><br /><span style="font-family: verdana;">De pegar gripe suína na faculdade</span><br /><span style="font-family: verdana;">Tenho medo do sistema colapsar</span><br /><br /><span style="font-family: verdana;">Mas também</span><br /><br /><span style="font-family: verdana;">Tenho medo de bicho selvagem</span><br /><span style="font-family: verdana;">De insetos que desconheço</span><br /><span style="font-family: verdana;">De umidade na barraca</span><br /><span style="font-family: verdana;">De atolar o carro na lama</span><br /><span style="font-family: verdana;">Tenho medo do silêncio infinito </span><br /><span style="font-family: verdana;">e da noite infinita</span><br /><span style="font-family: verdana;">Medo de ficar sem banho e sem shampoo e sem creme</span><br /><span style="font-family: verdana;">Tenho medo de mar bravo</span><br /><span style="font-family: verdana;">Tenho medo de rio escuro</span><br /><span style="font-family: verdana;">Tenho medo de aranha no telhado</span><br /><span style="font-family: verdana;">Tenho medo do alface mal lavado</span><br /><span style="font-family: verdana;">E da água fora da garrafa</span><br /><span style="font-family: verdana;">Tenho medo de milho de estrada</span><br /><span style="font-family: verdana;">De passar fome sem cream cackers</span><br /><span style="font-family: verdana;">De faltar requeijão</span><br /><span style="font-family: verdana;">Do celular não pegar</span><br /><span style="font-family: verdana;">De ninguém me ligar e me achar</span><br /><br /><br /><br /><span style="font-family: verdana;">Perto disso, São Paulo é o luxo.</span>Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-40917631773562556902010-01-14T12:08:00.000-02:002010-01-14T12:09:05.827-02:00Diálogo XPreciso de uma coisa.<br />Do quê , exatamente?<br />Algo pra mim, entende?<br />Temos muitas coisas aqui, se a senhora quiser. O que a senhora quer?<br />Um frasco, aquele que tá lá no fundo.<br />Aquele é do mostruário, o lote acabou de acabar.<br />E o que mais que você tem pra me oferecer?<br />Tenho este aqui, pra insônia. Este, do frasco verde.<br />Insônia? Hmn... Não tô com insônia apesar de estar dormindo pouco.<br />Está inapetente?<br />Também não.<br />Irritadiça, com cólicas?<br />Não, não. Nada disso. O que eu tenho é quase uma loucura, quase um taquicardia, mas um pouco diferente.<br />Entendo, senhora. Deixe me ver aqui então.<br /><br />( passa-se cinco minutos)<br /><br />Veja, tenho esse, do frasquinho rosa, você pode tomar de duas a três vezes por dia.<br />E é realmente bom?<br />É sim, muitas pessoas como você o compram.<br />E é bom pra quê, afinal?<br />Pra isso tudo que você está sentindo. É um vazio bem aqui, certo?<br />Isso, um pouco mais pra esquerda talvez. Isso, ai!<br />Pois bem. É pra isso mesmo. Se não melhorar, essa dor meio vaga, essa sensação estranha que se parece com dor mas na verdade não é, me avise. Eu ainda tenho uma outra remessa que chega amanhã.<br />Do mesmo frasco?<br />Não, este só mês que vem. O que chega amanhã é mais abrangente. É tiro e queda!<br />Será que eu espero?<br />Você consegue esperar?<br />Talvez..., mas, ai, só de pensar que, sei lá, que eu não vou conseguir esperar já me dá um sufoco!<br />Então leva esse. E amanhã você compra outro. Você vai ver, nada como esperar e ver as coisas melhorarem.<br />Eu posso te ligar?<br />Desculpa, ligar?<br />É, caso eu não consiga.<br />A senhora vai conseguir.<br />Mas posso te ligar? Só me deixe te ligar, caso eu precise, vai me deixar tranquila saber que posso ligar pra alguém.<br />Bem, senhora, isto é um tanto antiético.<br />Por favor, há tempos não posso contar com ninguém, estou sozinha. Meus amigos viajaram, meu cachorro morreu, minhas plantas secaram. Não me sobrou muita coisa. Só um telefonema.<br />Neste caso, te deixo o telefone do meu celular então, mas me ligue somente e tão somente a senhora estiver em apuros, daqueles que nem o travesseiro segura as lágrimas.<br />Oh, obrigada, o senhor é um homem bom.<br />Sou casado.<br />Mas continua sendo um homem bom.<br />Obrigado.<br />Bem, então, até amanhã.<br />Até senhora. Boa sorte.<br />Precisarei. Tchau!<br />Tchau.Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-62392926426366818862009-12-23T13:43:00.002-02:002009-12-23T13:46:54.197-02:00Poema da Separação IITodas as calcinhas, as rosas de lacinho, as branquinhas de renda,<br />aquela outra para o aniversário, vão ficar guardadas no armário;<br />E os outros presentes que iam ser dados, vão ser esquecidos.<br />Se arrependimento matasse, teria ao menos aceitado<br />de bom grado, se insistisse, o colar de pedrinhas azuis.<br /><br />Agora começar tudo de novo: a academia, a lista de filmes,<br />o livro de filosofia.<br />Ligar pra todas as amigas, vai ser sábado de segunda a quinta.<br /><br />Lidar com a dúvida que mais a devora -um dilema a parte.<br /><br />Gorda ou gostosa, gorda ou gostosa,em qual delas acreditar agora?<br />Até o brigadeiro feito antes com zelo tornou-se inimigo.<br /><br />Como entrar naquela calça que<br />meses atrás conquistou o gatinho?<br /><br />Pensando a fundo, ainda tem todos os retratos.<br />Na praia.<br />No parque.<br />Na piscina.<br />Beijos, abraços, close no nariz engraçadinho.<br />Sorrisos apaixonados.<br />(Ai, que raiva do cretino!)<br /><br />Parece agora um grande museu do desespero.<br /><br />Mas, bola pra frente. Se olha no espelho, nem liga,<br />muda essa cor horrorosa do cabelo. O verão ainda promete,<br />além de cerveja gelada, muitos assobios<br />( de fato a academia está no top da lista)<br />Do ex agora, só sobrou mesmo uma caixa<br />de lencinhos vazia.<br /><br />Nem mais uma lágrima se atreve a chorar,<br />as amigas falaram: não vale a pena, a mãe e o pai<br />também acham. Esquece aquele edema!<br /><br />Mas daí ela pensa que ele era tão, tão, tão....<br />e que tudo era bom, bom, bom.<br /><br />De relance olha a prateleira de sapatos,<br />vê o roxo, tipo mulher gato.<br />Não pensa duas vezes, agora, de fato, chega.<br />Batonzinho rosa só pra dar uma cor.<br />Fecha a porta do quarto.<br /><br />Com cuidado desce as escadas.<br />Deixa tudo para trás,<br />porque é sempre tudo de novo.<br />E então já está, pensa:<br />Que venha o próximo namoro.Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-24411012991343667212009-12-17T16:39:00.001-02:002009-12-17T16:39:54.689-02:00<span style="font-family: arial;">Quanto tempo falta para esse sol de todos os dias </span><br /><span style="font-family: arial;">parar de iluminar as árvores da minha insegurança,</span><br /><span style="font-family: arial;">E deixar que as sombrar morram, aos poucos, dentro da noite?</span><br /><span style="font-family: arial;">E essa lua? A quantas anda seus giros em volta da minha órbita? </span><br /><span style="font-family: arial;">Da minha terra seca, dos meus sorrisos sem sulcos?</span><br /><br /><span style="font-family: arial;">Quanto tempo falta? É inútil, é vão, é esquecido.</span><br /><span style="font-family: arial;">Vão-se as horas e espalhadas pelos sítios em volta</span><br /><span style="font-family: arial;">como folhas de outono, cobrem no meu rosto o medo.</span><br /><span style="font-family: arial;">Sem vento, a permanência delas é quase eterna.</span><br /><br /><span style="font-family: arial;">Eterna enquanto dure o universo de coisas</span><br /><span style="font-family: arial;">dentro da minha cabeça ardida, ardida.</span><br /><span style="font-family: arial;">Os astros da fortuna pararam na casa da saúde</span><br /><span style="font-family: arial;">ali moram, velhos, senis, grandes bolas vermelhas.</span><br /><br /><span style="font-family: arial;">Quanto tempo falta ainda para que eu possa crer</span><br /><span style="font-family: arial;">de fato, nos fatos? Na verdade, na certeza?</span><br /><span style="font-family: arial;">E deixar que a febre ceda e meu corpo resfrie </span><br /><span style="font-family: arial;">e meu sono seja com sonhos de pessoas silenciosas.</span><br /><span style="font-family: arial;">De pessoas com rostos suaves e olhares diretos</span><br /><span style="font-family: arial;">que olham pra dentro de mim como espíritos.</span><br /><br /><span style="font-family: arial;">Falta quanto mais e quanto mais será preciso</span><br /><span style="font-family: arial;">aguentar essa urgência me comendo.</span><br /><span style="font-family: arial;">Eu me vejo aqui e não posso entender o que faço.</span><br /><span style="font-family: arial;">Aceito andar em linhas retas por cima de mim mesma</span><br /><span style="font-family: arial;">e vejo que talvez seja imprudente não olhar para os lados.</span><br /><br /><span style="font-family: arial;">Mas, quanto tempo falta?</span><br /><span style="font-family: arial;">Só lamento não saber e sofrer por vontades</span><br /><span style="font-family: arial;">frívolas e sem graça e sem força pra sobreviverem.</span><br /><span style="font-family: arial;">Enquanto isso na rua, no céu, na paulista a vida </span><br /><span style="font-family: arial;">corre sozinha me deixando para trás.</span><br /><br /><span style="font-family: arial;">Quanto mais, quanto mais?</span><br /><span style="font-family: arial;">Os dedos que enfio na terra formam furos profundos,</span><br /><span style="font-family: arial;">ali enfio sementes e rezo e desejo e as amo.</span><br /><span style="font-family: arial;">Querendo que o tempo seja justo e as deixe crescer</span><br /><span style="font-family: arial;">e que eu possa cuidar delas como não cuidei de mim.</span>Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-19569679787146358282009-12-06T12:48:00.005-02:002009-12-06T16:24:41.543-02:00O Filho<span style="font-family:arial;">Esse já nasceu quase morto</span><br /><span style="font-family:arial;">não tinha um braço e seus</span><br /><span style="font-family:arial;">dentes nunca nasceram.</span><br /><span style="font-family:arial;">Os olhos quando bons </span><br /><span style="font-family:arial;">viam cores, porém, sempre</span><br /><span style="font-family:arial;">opacas e embaçadas.</span><br /><span style="font-family:arial;">Como tentaram amar aquele monstro,</span><br /><span style="font-family:arial;">beijando-lhe a fronte meio amarelada,</span><br /><span style="font-family:arial;">todos os dias e todas as noites.</span><br /><span style="font-family:arial;">Mesmo com repulsa deram seus dedos</span><br /><span style="font-family:arial;">para que a frágil mão os segurassem.</span><br /><span style="font-family:arial;">Durante um tempo alimentaram-no</span><br /><span style="font-family:arial;">com amor, com zelo.</span><br /><span style="font-family:arial;">Depois, só queriam ver de longe </span><br /><span style="font-family:arial;">aquele rebento,</span><br /><span style="font-family:arial;">pois seu odor de podridão doía-lhes </span><br /><span style="font-family:arial;">o nariz e dava náuseas.</span><br /><span style="font-family:arial;">Tentaram crer que aquilo era o filho,</span><br /><span style="font-family:arial;">o presente maior do que há de amor</span><br /><span style="font-family:arial;">entre duas pessoas.</span><br /><span style="font-family:arial;">Mas aquilo não era o filho, </span><br /><span style="font-family:arial;">aquilo de perto não era nada.</span><br /><span style="font-family:arial;">Aos poucos davam-lhe só água,</span><br /><span style="font-family:arial;">a porta do quarto ficava sempre fechada.</span><br /><span style="font-family:arial;">Até que um dia esqueceram-se dele,</span><br /><span style="font-family:arial;">não olharam uma última vez seu</span><br /><span style="font-family:arial;">rostinho doente.</span><br /><span style="font-family:arial;">Apenas mudaram-se de casa</span><br /><span style="font-family:arial;">e deixaram para o festim das baratas</span><br /><span style="font-family:arial;">o pobre corpo sem nome.</span>Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-19753891936874578242009-11-18T12:05:00.001-02:002009-11-18T14:50:58.833-02:00A Liberdade<span style="font-family:arial;"> Devo confessar hoje que sempre quis a sua morte. Sempre achei mais fácil que você morresse a viver do meu lado, assim, tão dependente de meu amor e de minha atenção. Não foi difícil aceitar a ideia logo depois que tudo aconteceu e você jazia longe em algum cemitério da cidade. Mas não ache que a construção desse ideal surgiu assim do nada, não. Essa vontade nasceu aos poucos, não foi no primeiro dia em que te vi, nem quando passei a te amar; ela nasceu quando eu percebi que dentro dos teus olhos havia somente um calor, uma vaga emoção de amor com ternura. Essa chama era muito forte pra mim, e foi ai, num daqueles passeios que costumávamos dar, que eu desejei, plenamente, que você morresse.</span><br /><br /><span style="font-family:arial;"> Quando nos encontramos pela primeira vez senti que podia me apaixonar, que nossas vidas iriam se encaixar aos poucos, como a de muitos outros casais que se apaixonam sem se apaixonar. Acordar cedo ao teu lado era bonito e feliz, preparar o café, preparar o seu café, lhe beijar a fronte e roçar as mãos em seus cabelos eram tarefas prazerosas que aos poucos se tornou uma rotina não muito dolorida. Eu podia viver a rotina, então. Podia ser igual ou melhor a muitas outras mulheres que encaram a tarefa de ser o par de alguém. Pois bem, no fundo nunca quis ser o par. No fundo, quando chegava em casa no fim do dia e seu rosto expressava o mesmo roteiro da manhã eu sentia que a minha construção mental não ia suportar alicerces tão duvidosos.</span><br /><br /><span style="font-family:arial;"> Pensando bem agora, consigo ver o exato momento que nasceu o desejo da sua morte, sim, foi naquele passeio, pouco antes do acidente. Já era verão e a tarde caia morosa por de trás dos prédios da Faria Lima, eu estava cansada, exausta, melhor dizendo. Meus olhos pendiam soltos na órbita e meus lábios ficaram fechados o tempo todo. Eu te olhava andando à minha frente, brincando com alguns cachorros da praça, rindo solto de tudo o que te rodeada. Como era possível? Como alguém podia sorrir tanto, por tanto tempo? Enquanto eu me questionava, atônita, você continuava vivendo a parte de tudo aquilo, olhando para as árvores, querendo que eu as olhasse também. Você queria que eu participasse daquilo e ao mesmo tempo era impossibilitado de participar do que acontecia comigo, porque tudo era bonito, a tarde era quente, o verão trazia promessas de mar de areia solta.</span><br /><br /><span style="font-family:arial;"> Eu desejei a sua morte com a mesma intensidade que você vinha na minha direção com seus olhos castanhos e seus cabelos fartos correndo solto por uma cabeça que eu não entendia. Pensei que seria mais fácil assim, uma separação ia ser muito mais dolorosa do que a morte. A morte é inevitável e depois do luto a vida segue, em linha reta, eu teria a certeza de que não te encontraria mais, que não precisaria atender aos seus telefonemas nem pensar que em algum lugar você estaria chorando de saudades, uivando, sonhando com nossos dias passados. Se nos separássemos, eu teria que conviver com os seus pensamentos, com o fardo do seu sofrimento inundando meu escritório, minha cama, o hall da minha casa. Seria mais do que eu posso suportar. A morte é resoluta, não tem mais nem menos e era isso que eu queria.</span><br /><br /><span style="font-family:arial;"> Pensei em te matar também, tive pensamentos assassinos articulando uma forma de você não sofrer, uma forma rápida, limpa e digna. Na manhã daquele dia, queria ter pressionado o travesseiro contra a sua cabeça enquanto dormia e roncadva ao meu lado ou então comprar aqueles venenos tão famosos e encher seu café preto de chumbo. Pensei em cortar-lhe o pescoço, injetar-lhe éter nas veias, solta-lo em alto mar, sabendo que você não podia nadar. Além de tudo, não podia nadar, não podia sequer ir para uma ilha. Seus traumas de infância me davam nojo. </span><br /><br /><span style="font-family:arial;"> Acho que no fundo você percebeu o que eu queria. Durante algum tempo, enquanto o desejo da morte crescia, eu senti que você amadureceu, talvez por sofrer um pouco com a minha ausência, com o meu distanciamento, devia sofrer todas as vezes que disse que te amava e um esgar de riso tentava sair da minha boca. Acho também que você buscou a morte só pra me agradar, só pra me dar o prazer de ver o tamanho do seu amor por mim e do que você era capaz pra me deixar feliz. Você entendeu no fim que não podíamos estar juntos e só a morte seria suficiente para deixar tudo bem. Eu desejei profundamente a tua morte, sendo incapaz de te matar, tudo o que podia fazer era esperar esse dia.</span><br /><br /><span style="font-family:arial;"> E ele veio, tranquilamente, sem nenhum ruido. Engraçado pensar - e por isso acho que você foi seu próprio cúmplice – que você acordou antes de mim naquele dia, o céu estava nublado e o tempo quente e úmido. A sensação era de chuva apesar do céu estar firme. Você se levantou em silêncio e preparou um suco pra mim, duas torradas com ovo e saiu para a rua. Não disse nada, achei estranho você estar tão atento a tudo. Não me olhou na cama nem me disse bom dia. Simplesmente saiu e deixou a porta destrancada, como que dizendo que voltaria em breve. </span><br /><br /><span style="font-family:arial;"> Eu me levantei e quando abri as cortinas do quarto o sol já estava a pino, era quase onze da manhã e você não havia voltado. Sentei na sala, liguei o celular, cinco chamadas não atendidas. Retornei a ligação e era de uma delegacia perto de casa. “Senhora X, você é a mulher do senhor Y?”. Fiquei quieta demonstrando que sim, eu era. “ Houve uma acidente de carro na av. Paulista e temo que o seu marido não resista aos ferimentos. A senhora deve encontra-lo no hospital H”. Aquilo tudo já não me interessava mais, estava feito. Me demorei no banho, fiz uma demorada escova, esperei o almoço sair e quando já era fim de tarde fui ao hospital para, enfim, me certificar do que havia acontecido. Ferimentos leves, sofreu pouco, hemorragia cerebral, não ia sobreviver de qualquer jeito.</span><br /><br /><span style="font-family:arial;"> Assinei papéis, avisei teus pais, paguei a conta do hospital e do funeral logo de adiantado. A Paulista a noite me parecia uma avenida mais infinita do que já era. Um grande rombo se abriu no meu peito, chorei algumas lágrimas. Quando entendi o que havia acontecido de fato, a sensação era então de alívio. Voltei pra casa e a sua cara grande e rosada não apareceu pra me festejar, seu corpo não esquentava a cama e pensei que a liberdade completa devia ser aquilo que eu presenciava naquele momento. Me atirei na cama e cerrei meus olhos com força por vários minutos, senti o silêncio mudo e pesado invadir o ambiente, olhei pela janela e a lua estava redonda rindo pra mim. Era a primeira vez em muito tempo que retribui um sorriso verdadeiro. Liberdade era, finalmente, aquilo que eu sentia.</span><span style="font-family:arial;"> </span>Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-85399791776543239022009-10-21T17:41:00.001-02:002009-10-21T23:02:48.898-02:00Amizade<span style="font-family:arial;">Esse sol. Cega os meus olhos.</span><br /><br /><span style="font-family:arial;">Um, dois, três velhos sentados em volta de uma mesa comentam sobre temas de velhos. Dentista, o filho do dentista, a alegria de ser um dentista.</span><br /><br /><span style="font-family:arial;">Do outro lado um bonitão de sunga torra toda a sua pele, finge que lê um livro na beira da piscina, fala ao celular, blá blá blá etc e tal.</span><br /><br /><span style="font-family:arial;">Queria ter alguém aqui do meu lado, tomar uma cerveja, passar protetor nas costas, rir do bonitão que agora resolveu dar um pulo na água e mostrar seus dotes de nadador semi-profi. Certeza que quando chegar aos 43 vai querer participar de algum Iron Man internacional. Tiger, Tiger, quer me ajudar nas cruzadinhas?</span><br /><br /><span style="font-family:arial;">Qual é o nome do livro que estou lendo agora? Trópico de Câncer. Meu avô falou que na época este livro fez muito sucesso, quebrou paradigmas, hoje me parece só um enfadonho relato sobre “vulvas”, “fêmeas”, e sexo em hotéis podres e sujos da Paris dos anos 30. Eu o leio antes de dormir. O tédio ajuda a embalar o sono profundo.</span><br /><br /><span style="font-family:arial;">Mas do que estava falando mesmo? De nada em particular, mas queria falar de algo...Algo que me incomodou esse dias. Ah claro, o término de uma amizade. Me parece meio pequena esta frase agora. Recebi a noticia num domingo a noite, num agradável momento da minha noite; pipoca na panela, coca gelada, filmes despretensiosos na TV. Olha, eu tô te ligando pra terminar a nossa amizade. Pessoas como você eu dispenso da minha vida. Vida. VIDA. Acho esse conceito de terminar algo tão etéreo muito interessante.</span><br /><br /><span style="font-family:arial;">Daí eu pensei em várias coisas, pensei em ligar de volta e mandar tomar no cu, pensei também em escrever um belo email, pensei que, enfim, as pessoas são loucas mesmo, inclusive eu. Mas terminar assim, terminado? Com ponto final? Não, não. Amizade não é uma instituição como um casamento, uma empresa jurídica. Aqui está a rescisão, assine aqui e aqui também por favor.</span><br /><br /><span style="font-family:arial;">A amizade funciona como uma matéria social. Namoro ou amizade? Amizade, sempre, a não ser que o cara trepe muito bem. Não. Não se termina uma amizade assim. Ela é uma espécia de gás, não pode ser abatida, nem posta num saco plástico e jogada no rio Tietê. Pra terminar uma amizade é necessário muito mais que isso. </span><br /><br /><span style="font-family:arial;">Porque a amizade é maior que o amor, e não to falando isso porque acho bonitinho, mas quando você sai pra tomar uma cerveja com uma pessoa durante anos da sua vida, bem, é maior que amor. Como aqueles casais de 50 anos, já aconteceu de tudo: adultério, pornografia, segunda família, brigas e mais brigas, mas estão juntos, porque não é mais amor, é amizade.</span><br /><br /><span style="font-family:arial;">E quando as pessoas atingem o ponto da amizade, existe uma suposta solidez, uma suposta solidez emocional. O amigo, aquela pessoa, ela tem que ser só aquilo. E aceitar e ser aceito, é no amigo que refletimos muitas coisas, existem ligamentos invisíveis que unem as pessoas de uma tal forma que, seria impossível, pela dinâmica natural, serem desligadas. Mas pelo o que entendi, foi.</span><br /><br /><span style="font-family:arial;">Nesta mesma dinâmica o amigo deve ser firme, manter o seu posto, ser duro como uma rocha. E cá estou eu, esperando que essa minha pessoa entenda que eu sou sua amiga. Não sou sua comparsa ou até mesmo, sua inimiga mais íntima. Estou aqui em carne e osso esperando calmamente ela se acalmar e voltar a puxar o seu lado da nossa cordinha. E vou esperar o quanto for preciso porque sei que uma amizade não termina assim. Não senhor.</span>Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-65046265122218095022009-09-14T12:10:00.000-03:002009-09-14T12:11:21.693-03:00resolução VIIÀs vezes um é melhor que dois.Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-37833911932946433282009-09-03T19:02:00.001-03:002009-09-03T19:09:51.191-03:00Houve um tempo em que o amor era somente uma coisa boa. Para os dois era, até então,sentir o calor emanado vir de todas as direções, era sentar num fim de tarde e sorrir para o pôr-do-sol, todo dia mais belo, todo dia mais formoso. Era enfim, amar e ser amado.<br /><br />Mas daí, aconteceu. Não me lembro se foi apenas dentro do olhar que aquilo cresceu, ou se veio de um outro lugar ainda mais longo e sombrio. Pensando bem, pedaços daquele terremoto estavam espalhados em vários cantos, e um dia, por uma faísca de fogo, eles se concentraram, se uniram e explodiram. Ali na sala, naquele canto verde, bem ali, no finalzinho.<br /><br />O amor e as trevas possuem a mesma medida e ,se de um lado derrama, acaba esbarrando no outro que, inundando, derrama também. Todo o resto do corpo fica descompensado. As ondas querem sair pela boca, que vai espumando e trazendo junto com a espuma, palavras grandes como tormentas, palavras duras como pedras, pesadas como cimento, afiadas como lâminas. E foi assim, por conta de uma faísca, que o sol daquela tarde se pôs mais depressa e uma nuvem escura e carregada de chuva, avançou sobre o céu de São Paulo.<br /><br />Por um átimo eles já não eram mais amantes, já não podiam ouvir mais a voz um do outro. Era insuportável o grunhir de raiva, de tristeza, de desapontamento. Mas por quê? Porque existem lugares a onde não se pode entrar duas vezes, ela diria; ao que ele retrucaria respondendo que só o espelho não dá conta de refletir, sozinho, o que realmente somos. Para ela, os erros eram passíveis de esquecimento, mas infelizmente, nem sempre se esquece e rastros ficam voltando à tona, migalhas tortas, que grudam, como aquelas bolas de pelo de gato, que saem do tapete e vão parar na sua blusa.<br /><br />E por conta de todas essas migalhas coladas umas as outras, ela percebeu quão grande eram os seus erros. Agora esquecer não poderia mais e se tivesse um pote de cola e uma borracha, usaria sem parcimônia no coração do amado. Ai...quanta dor que foi sentida. As palavras mais doces não serviriam para consolar a miséria crescente dele. Se pudesse ela fechar os olhos, tampar a boca e os ouvidos durante todo um dia, se pudesse, se. Mas agora, vendo que também chove nas ruas e não só lá dentro, tudo parece um pouco menor. Agora, que o outro dia amanheceu ensolarado,e o fogo que fora ateado cessou de arder, ela consegue respirar. Ela pode olhar para o seu rosto no espelho e ver um pouco mais do que só pele.<br /><br />Mas ainda assim ela sabe, só o tempo cura, já diziam, as mazelas de um coração ferido. É difícil entender como funciona os processos do amor. Porque mesmo que ele seja grande, ainda assim é capaz de acabar tão mais rápido quanto nasceu, e o outro, perdido na guerra, se vê abandonado na imensidão daquele sentimento, sem poder dizer pra ninguém, que tem medo da solidão.<br /><br />Aliás, solidão é do que ela mais tem medo. Nesses tempo, onde as pessoas não querem mais ouvir umas as outras, o ombro do querido amado é o seu grande divã. Mesmo que pra poder falar o que sente, ainda é preciso um caderno, e ela vai escrever pra ele uma carta de amor. Mais ou menos como aquelas que antigamente se escreviam para o grande amor que estava no front de guerra. “ Amor meu, ainda estou aqui, te esperando. Não morra. A sua torta preferida, ainda está na janela...”Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-8490735556835841342009-09-03T15:43:00.001-03:002009-09-03T15:43:43.371-03:00resolução VISe estiver escuro, não entre.Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-90969011627779006042009-08-24T16:12:00.000-03:002009-08-24T16:13:37.965-03:00Inspiração<div style="text-align: center;">Venha,<br />a inspiração é sempre bem vinda.<br />O som das palavras não me intimida,<br />e por isso sou poeta<br />sou pura poesia.<br /><br />Se precisar de uma rima<br />ela vem sem pressa.<br />A palavra deve ser bem usada<br />nunca dura, ou severa.<br /><br />Pode ser poeminhas<br />de amor<br />de amizade<br />de comida<br />de pessoas<br />da vida<br /><br />A inspiração<br />é<br />sempre.<br /><br />Tudo que ela me dá,<br />eu aceito veemente.<br />De mim nunca tirou nada,<br />e entre virgulas e pontos,<br />ela mostra o caminho.<br /><br />Não é simples linha reta,<br />veja bem, a inspiração<br />não é meta.<br /><br />É desejo e ar,<br />é feita de sonhos e de coisas<br />etéreas.<br /><br />A inspiração é sempre ela.<br />E eu sinto a sua presença<br />pesando em meus ombros,<br />entrando pela minha testa,<br />expandindo dentro da minha cabeça.<br /><br />E mesmo que o poema<br />seja assim meio sem pé<br />nem cabeça.<br /><br />Sem métrica<br />e sem regra.<br /><br />Ainda assim eu posso dizer<br />sou poeta<br />e a inspiração<br />é<br />para sempre<br />a única coisa que me<br />resta.<br /><br /><br /></div>Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-85909995649338422022009-04-14T14:55:00.003-03:002009-04-14T15:03:32.647-03:00Ode Ao AmorEu amo<br />Vivo na intensidade do amor presente<br />Eu vivo ele diariamente<br />Constante ele queima<br />Por dentro<br />Eu amo<br />Ainda hoje e sempre amanhã<br />Mesmo sem serenidade, eu amo<br />O fogo que arde é verdadeiro<br />Amo por inteiro e incessantemente<br />Eu amo<br />E a dor que é, não dói.<br />E se não há, corrói.<br />Eu sei, porque amo.<br />E sem o amor eu não seria<br />Não existiria uma outra metade minha<br />Eu amo<br />Sou completa e só assim eu vivo<br />Amo agora<br />E amo indivisível<br />Não há somatórias, só amor<br />Bruto e concreto, insolúvel.<br />Amo como posso<br />Amo com o que tenho<br />Amo porque não temo<br />Aqui dentro é só amor<br />E é só ao amor a quem pertenço.Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-68565914376601233352009-03-26T14:43:00.001-03:002009-03-26T14:46:06.733-03:00A Rã CinzaRãzinha bonitinha<br />Tem uma cara engraçada<br />Boca grande, quase farta<br />Quase não fala quando na água<br />Ela é uma rã cinza<br />Da pele lisa e macia<br />As largas falanges das patas<br />Seguram as pedras enquanto<br />Observa os dois mosquitos verdes<br />E com os seus olhos escuros hipnotiza<br />Nenhum inseto foge a sua língua<br />Mas é só um leão rugir<br />Que a rãzinha fica ranzinza<br />Fecha a cara e nem coachar ela quer<br />Mas isso dura pouco,<br />Logo logo quando o sol arde<br />Lá está ela pelo parque<br />Pulando de pedra em pedra<br />Exibindo todo o seu dorso<br />Esticando as patas e beijando outros sapinhos<br />Essa rã é um barato<br />E eu que nem em anfibios me amarro<br />Simpatizei com o tal bicho<br />A ponto de querer virar eu mesma<br />Uma joaninha um besouro ou ratinho<br />E sentar numa folha perto dela<br />Só pra ser a sua amiga.Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-88767677554541551182009-03-13T12:09:00.001-03:002009-03-13T12:10:41.520-03:00Anatomia do ser ontológicoSão tantos os olhos abertos<br />E muitas as bocas parlantes<br />São dedos em riste apontando<br />o onde, a onde ou quando.<br /><br />Ouvidos há muito atentos<br />Em volta das cabeças pensantes<br />E dentro pensamentos estranhos<br />O que pensam não importa,<br />O que importa é o restante.<br /><br />Nos pés cicatrizes<br />Logo dois correndo em linha<br />E os joelhos arcados e doloridos<br />Balançam a frágil bacia.<br /><br />E no estômago, universo do vazio<br />Arde em chamas quando atiçado<br />Sentimentos quentes ou frios<br />De acordo com o dia e o quadro.<br /><br />A lingua, molhada tensiona<br />Os dentes pra dentro e pra fora<br />Se movimenta como ondas<br />Nas costas, na nuca, nas coxas.<br /><br />E dentro do peito, a pedra.<br />Mineral alado e pulsante<br />Esfarela-se quando apertado<br />Dissolvendo-se no meu restante.Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-31580151250468563812009-02-09T13:05:00.002-02:002009-02-09T17:29:10.823-02:00EnsaioÉ preciso escrever. Para se entender os desejos, para que os outros leiam e os entendam. É preciso escrever para elucidar os maiores mistérios do coração, só assim, desdobrando as palavras que voam pela cabeça é possível compreender e ser compreendido. O amor deve ser escrito, o desejo deve ser escrito, as pessoas, tão singulares, devem ser escritas.<br /><br />Mas elas nunca querem. Nunca querem ser um personagem no papel. É intrusivo, eu sei, mas como poder explicar e definir a tênue linha que separa o eu verdadeiro do eu poético? Como dizer a alguém o que se sente com tantas palavras saindo pela boca, com os olhos nos olhos? Elas não acreditam. Não aceitam a possibilidade de serem pensadas e repensadas. As pessoas não são personagens, e por isso relutam em participar das histórias que escrevo.<br /><br />Eu ainda te amo. Foi culpa minha te deixar ir. Eu sei que você não quer partir meu coração. Me perdoe. Eu ainda vou te roubar pra mim, você vai ver. Hoje acordei e percebi que havia caído da cama. Je t’aime encore. Je t’aime toujour.<br /><br />Só as palavras sabem a essência do desejo. Porque elas não precisam do corpo para provar a sua veracidade. Elas vem de um lugar distante, de trás do cérebro, de baixo da língua, elas vem do âmago, do centro do peito.<br /><br />A poesia liberta e com ela é possível alcançar o coração daquele outro distante. É poder dizer, em cada parágrafo, coisas que os olhos não podem ver, coisas que os ouvidos não podem ouvir. Nem o sussurro do amante tem tanto poder. Nem a lágrima mais chorosa alivia a dor. É preciso escrever e dizer letra por letra o que não pode ser dito nas entre linhas. São mensagens diretas, e o alvo nem sempre é aquele que acha que é.<br /><br />Escrevo não para alimentar o ego daquele que ponho no papel, escrevo para alimentar a minha alma. Porque só existe uma pessoa. Só existe o eu. As pessoas deixam pistas, frases soltas, caras engraçadas. Mas tudo isso não é para elas, quando escrevo sobre elas é para mim mesma que escrevo. Sou eu que preciso ver a alma, e escrever alivia a tensão do pensamento. Posso dormir melhor. Dormir e sonhar.<br /><br />Você é o meu melhor amigo. Você é incrível. Você é lindo. Quando eu morrer, você vai chorar? Eu falo com Deus todas as noites. Morro de saudades, mas não voltarei tão cedo. Eu posso te perdoar, mas preciso saber, se você precisa do meu perdão. Eu preciso.<br /><br />Escrever é preciso. O escritor alcança a eternidade quando consegue sublimar suas idéias, quando o poema rima e até quando escreve uma carta de amor que nunca será lida. O papel é o lugar comum da ficção e da realidade, onde elas podem conviver sem conflitos. Quem escreve exorciza, expurga o mal que devora por dentro.<br /><br />Quem escreve vive tudo o que tem para ser vivido, pois só ali, onde o tempo não opera, é que vive o poeta. Lá eu não morrerei nunca.Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-24193017998251908342009-02-04T16:07:00.000-02:002009-02-04T16:08:52.968-02:00Pequenos encontrosO verdadeiro encontro aconteceu quando ela acordou ao seu lado e pode enfim olhar com calma aquele corpo imóvel sem que ele falasse, retrucasse, pensasse. Ela pensou por um segundo que o amor podia ser assim, sempre. Um corpo estendido onde se pudesse desenhar em canetas coloridas grandes corações vermelhos. Chegou mais perto de seu rosto e quase encostou a sua pálpebra na dele, ficou assim um tempo de olhos abertos, vendo os poros de seu nariz, sentindo o ar morno saindo pela boca. “Este é o homem mais bonito que já vi”. Com seu celular tirou uma foto dele dormindo. Queria guardar pra sempre aquele rosto, mesmo que não fosse amor.Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-6223391604951547462009-02-02T15:56:00.000-02:002009-02-02T15:57:06.366-02:00Quem gosta de ar livre é passarinho<br /><br />Gente gosta de ninho<br />De lambida na cara<br />E outras animalias.<br /><br />Quem gosta de gente é bicho<br /><br />Gente gosta de gente<br />Que pega na mão quente<br />E fala aos sussuros.<br /><br />Quem gosta de gente<br /><br />Quer ter uma por perto sempre<br /><br />.Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-71970382483845178052009-02-01T19:45:00.001-02:002009-02-01T19:46:47.424-02:00Gertrude, as you used to say:<br /><br />People are just people are just people are just people.Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-10212506167212231072009-01-30T11:21:00.000-02:002009-01-30T11:22:41.421-02:00InsôniaInsônia<br />É minha sócia<br />Cedo se assenta na minha sombra<br />Sinto seu peso cessar<br />Meus sonhos<br />Sina de manter-me desperta<br />Com ela ao meu lado<br />Fazendo troça do meu ser<br />Tece teia nos meus olhos<br />Insones<br />Nas minhas pálpebras se senta<br />Sabe que eu não posso detê-la <br />Insônia<br />Malvada sina dos nervosos<br />Amiga da ânsia <br />Comparsa das estrelas<br />Quer meus olhos sempre abertos<br />Mirando o tempo da noite<br />Sem piscar<br />Amanheço sem amanhecer<br />E peço que nesta noite<br />Ela não venha me acolher.Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-63822599139748946282009-01-29T14:39:00.000-02:002009-01-29T14:40:09.126-02:00resolução cinco:<br /><br />Só ande com quem não tem amigos.Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-41694881469223937522009-01-28T15:31:00.000-02:002009-01-28T15:32:18.934-02:00De Rafael para PalomaArquivo achado no tempo:<br />19.dez.2004<br /><br />Ah, ela voa....ela voa e não me engana...<br />os pássaros em seus ombros são como escombros<br />Uma janela atravessada...<br />uma figura resguardada do tempo<br />Asas estáticas<br />Mas ELA, ela mesma, vôa!<br />Branca pomba...brancas pombas<br />Ratos de asas<br />Anjos<br />Morcegos<br />Caças protetores<br />Todos eles voam, mas não, jamais como ela<br />Como ela apenas em casos deliberdade deliberada....extrema<br />Alada....<br />as asas poderás ouvir se tocar sua pele<br />poderas sentir se ouvir sua transpiração<br />pequenas grandes asas com as quais vôa<br />e se chama pavôa pelas cores de suas penas<br />e pelo calor por entre suas pernas<br />diz que dói amar<br />Diz que dói o prazer<br />e o entrega tão sutil e sublime como o toque de fria agulha na pele<br />Sangue na língua<br />furo no peito<br />O Amor matou seu filho, O Eleito<br />queimamos as cruzes <br />apagamos as luzes<br />acendemos as tochas<br />firmes como rochas<br />fluindo como água<br />jamais pediremos trégua<br />jamais cagaremos regras<br />pois nunca as engolimos<br />recebemos do alto o prazer<br />merecemos do fundo a dor<br />entregues sublimes ao acaso<br />mordendo o fruto e tecendo o pecado<br />com os fios da razão<br />em nosso avesso corpo, coração<br />e nada, nada disso jamais será à toa!<br />Além da fugacidade dos acontecimentos<br />e da impermanência da existência!!!<br />O momento é impresso na memória sem tempo do infinito<br />E posso garantir, olhando para os céus e<br />rindo-me loucamente diante do abismo <br />no qual traço meu caminho!<br />Desde os palácios suntuosos de origens ancestrais <br />à prepotência simplista de Roma<br />Seu nome é PALOMA, e garanto....<br />ELA VÔA!!!!Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8430030.post-17254663592608682852009-01-27T00:29:00.008-02:002009-01-30T11:24:16.744-02:00A Menina Semente<span style="font-size:100%;">Algumas coisas na vida vêem assim para ela, se parecem com pequenas estações. Pequenos outonos em amarelo chá, manchando a copa das árvores de seu jardim. E as folhas, ligadas tão suave e docilmente pelos seus caules que um vento leve pode solta-las dos galhos para preguiçosas morrerem na grama.<br /><br />Estação da mudança interna, renovação para a verdadeira primavera escondida em sementes. Com um de seus dedos molha os lábios com mel e pimenta, deixar escorrer pelo canto do rosto uma lágrima dourada e doce. Olinhos de olivas, fechados contra o sol fraco da tarde. Ela ainda não sabe o que procura. Mas quer intensamente sentir o sabor desta tarde, tão única.<br /><br />É muito rápida a vida, então respira fundo e segura o ar em seus pulmões aveludados, tarde sabor de avelã. Como parar o tempo? Se pergunta. Tudo podia ser sempre verão, areia fofa numa praia linda e deserta. Quando se dá conta mais um dia se passou, mas não vai chorar dessa vez, não é?<br /><br />O que sente é a presença esmagadora e divina do mundo contra suas costas, suas pintas rosinhas se contraem e ficam vermelhas, se juntam formando desenhos desordenados na sua pele de leite. Sente-se cada vez mais sufocada com a pressão, seu rosto também se torna rosa, os pensamentos se anuviam e ela enfim cai profundamente por cima das folhas.<br /><br />Sonha que tomava um chá de sabor intenso, sabor de grama molhada. Ela ria alto e dizia para uma outra pessoa que poderia simplesmente escolher qualquer um daqueles bombons, que tudo bem não saber afinal se iria gostar ou não, o importante era morde-los bem devagar, sugando aos poucos o licor de seu recheio, sorver devagar e deixar que o sabor se alastra pela língua toda, pela garganta. Ela acha graça na arte de se comer bombons.<br /><br />Quando acorda já é noite, o mistério das estrelas reluz mil anos luz de sua cabeça. Ainda é outono, caminhando pelo pátio consegue ver na contra luz os galhos despidos, a cada passo o barulinho da secura crocante sob seus pés a faz sentir um pouco de medo e tristeza. É triste ser um galho seco, seria triste morrer nua, sem folhas nem flores.<br /><br />Agora ela já sabe o que quer, na verdade, gostaria de não morrer nunca, como uma árvore milenar. Eternamente dando frutos e sementes e mais árvores. Povoar o mundo com a eternidade vegetal e orgânica. Tronco em riste olhando para o céu, buscando o calor do sol para alimentar a sua seiva, enfiar as suas raízes para o fundo da terra procurando a água fria, ser abrigo e alimento da fauna e dos homens. E poder ficar no seu silencio despretensiosamente vendo as estações passarem ao sabor das eras.<br /><br />Decide então com as mãos cavar um pequeno buraco, começou enfiando uma só mão na terra fofa e depois a outra, e depois a outra e a outra novamente, sem parar e conforme cava a terra foi ficando mais úmida, mais perfumada e mais escura.<br /><br />Quando termina já é quase de manhã, percebe que o buraco é grande o suficiente para que caiba seu corpo todo, deita então no leito, por cima de si coloca algumas folhas e alguns galhos, busca com as mãos pedrinhas para cobrir seus olhos, sua boca e seus ouvidos. Ao poucos se cobre com toda a terra até desaparecer da superfície.<br /><br />Esta tudo bem agora, é tudo tranqüilidade e paz. Finalmente seria como as outras árvores. Ela não sabe, mas na estação seguinte renasceu como um pessegueiro muito macio e doce.<br /><br /></span>Paloma Zaragozahttp://www.blogger.com/profile/02777614445158191381noreply@blogger.com1