16/07/2008

Ponha em si um poema, amor
Deixe a rima levar seus sentimentos
Deixe a cadência sobrepor
O ritmo de seus batimentos.

Faça pouco dos lamentos
Das tormentas do coração
Da dor, do descontento
Escreva uma canção

Sinta como é a sensação
Se você puder descrevê-la
Pois nem tudo é solidão

Nem tudo é uma pena
Deixe, que ainda há lá dentro
Água, açúcar e pimenta.

Vidas Ordinárias IV

Pode ser que seja somente um momento, no coração de Ana, tudo passava em um segundo. Era a primeira vez que se via no espelho, essa imagem real do seu duplo. Estar só é estar consigo mesma. Verdade inquestionável, todas aquelas fotos diziam algo sobre ela. Todas eram ela mesma, uma Ana em cada mundo. Na sua nova casa não haverá retratos nas paredes, como na antiga. E vai pintar de vermelho a estante de livros.

O vermelho que não era dela, sempre gostou de azul, mas agora, agora que o segundo se passou, achou melhor deixar para trás, como as fotos, o que fora. A vida a um pode ser boa, usar o vestido que quiser, tomar seu café e fumar um cigarro. Ler até mais tarde na cama grande. Pensar no que quer ser no futuro. Os minutos da vida correm adiante, sempre em frente segue o seu destino. Tem que acompanhar a lida da vida, senão Ana se perderá, para sempre. Para todo o sempre.


***

Já Paulo, prefere a companhia de amigos, é de amigos que se faz a vida, e são sempre eles que mostram em seus defeitos ou atitudes, um pouco do que somos. A solidão ocupa um espaço muito grande em seu peito, e parece não ter fim nem concerto. Será sempre um homem só, Paulo. Mas é a sua sina, sua busca por um pouco de aconchego vai demorar a chegar, e ele sabe disso. A sua tristeza é compreensível e ele não luta mais contra ela.

Paulo vai continuar onde está, e seu grande plano agora é poder busca algo que acabe com a solidão que não acaba. Precisa ainda arrumar sua casa, e encontrar papéis perdidos há muito tempo, ainda não sabe se irá viajar ou se muda de emprego. Vai continuar colecionando fotos nas paredes brancas da sua casa, vai continuar perfurando, com o prego a tintura gasta. É disso que precisa, a linearidade maçante de seu cotidiano.

***

É isso então. O dia vence as horas, as horas nunca são suficientes. E bem da verdade, as plantas de vaso nunca duram a estação. Tudo passa, tudo se esquece. Se não se esquece agora, a velhice tratará de o fazer. E a vida tratará de mostrar os caminhos tanto árduos, como fáceis. E Ana e Paulo hão de chegar em algum acordo. Talvez Ana, ligue para Paulo. Talvez Paulo, esqueça Ana. Só esperamos que sejam felizes. Para todo o sempre.