30/01/2009

Insônia

Insônia
É minha sócia
Cedo se assenta na minha sombra
Sinto seu peso cessar
Meus sonhos
Sina de manter-me desperta
Com ela ao meu lado
Fazendo troça do meu ser
Tece teia nos meus olhos
Insones
Nas minhas pálpebras se senta
Sabe que eu não posso detê-la
Insônia
Malvada sina dos nervosos
Amiga da ânsia
Comparsa das estrelas
Quer meus olhos sempre abertos
Mirando o tempo da noite
Sem piscar
Amanheço sem amanhecer
E peço que nesta noite
Ela não venha me acolher.

29/01/2009

resolução cinco:

Só ande com quem não tem amigos.

28/01/2009

De Rafael para Paloma

Arquivo achado no tempo:
19.dez.2004

Ah, ela voa....ela voa e não me engana...
os pássaros em seus ombros são como escombros
Uma janela atravessada...
uma figura resguardada do tempo
Asas estáticas
Mas ELA, ela mesma, vôa!
Branca pomba...brancas pombas
Ratos de asas
Anjos
Morcegos
Caças protetores
Todos eles voam, mas não, jamais como ela
Como ela apenas em casos deliberdade deliberada....extrema
Alada....
as asas poderás ouvir se tocar sua pele
poderas sentir se ouvir sua transpiração
pequenas grandes asas com as quais vôa
e se chama pavôa pelas cores de suas penas
e pelo calor por entre suas pernas
diz que dói amar
Diz que dói o prazer
e o entrega tão sutil e sublime como o toque de fria agulha na pele
Sangue na língua
furo no peito
O Amor matou seu filho, O Eleito
queimamos as cruzes
apagamos as luzes
acendemos as tochas
firmes como rochas
fluindo como água
jamais pediremos trégua
jamais cagaremos regras
pois nunca as engolimos
recebemos do alto o prazer
merecemos do fundo a dor
entregues sublimes ao acaso
mordendo o fruto e tecendo o pecado
com os fios da razão
em nosso avesso corpo, coração
e nada, nada disso jamais será à toa!
Além da fugacidade dos acontecimentos
e da impermanência da existência!!!
O momento é impresso na memória sem tempo do infinito
E posso garantir, olhando para os céus e
rindo-me loucamente diante do abismo
no qual traço meu caminho!
Desde os palácios suntuosos de origens ancestrais
à prepotência simplista de Roma
Seu nome é PALOMA, e garanto....
ELA VÔA!!!!

27/01/2009

A Menina Semente

Algumas coisas na vida vêem assim para ela, se parecem com pequenas estações. Pequenos outonos em amarelo chá, manchando a copa das árvores de seu jardim. E as folhas, ligadas tão suave e docilmente pelos seus caules que um vento leve pode solta-las dos galhos para preguiçosas morrerem na grama.

Estação da mudança interna, renovação para a verdadeira primavera escondida em sementes. Com um de seus dedos molha os lábios com mel e pimenta, deixar escorrer pelo canto do rosto uma lágrima dourada e doce. Olinhos de olivas, fechados contra o sol fraco da tarde. Ela ainda não sabe o que procura. Mas quer intensamente sentir o sabor desta tarde, tão única.

É muito rápida a vida, então respira fundo e segura o ar em seus pulmões aveludados, tarde sabor de avelã. Como parar o tempo? Se pergunta. Tudo podia ser sempre verão, areia fofa numa praia linda e deserta. Quando se dá conta mais um dia se passou, mas não vai chorar dessa vez, não é?

O que sente é a presença esmagadora e divina do mundo contra suas costas, suas pintas rosinhas se contraem e ficam vermelhas, se juntam formando desenhos desordenados na sua pele de leite. Sente-se cada vez mais sufocada com a pressão, seu rosto também se torna rosa, os pensamentos se anuviam e ela enfim cai profundamente por cima das folhas.

Sonha que tomava um chá de sabor intenso, sabor de grama molhada. Ela ria alto e dizia para uma outra pessoa que poderia simplesmente escolher qualquer um daqueles bombons, que tudo bem não saber afinal se iria gostar ou não, o importante era morde-los bem devagar, sugando aos poucos o licor de seu recheio, sorver devagar e deixar que o sabor se alastra pela língua toda, pela garganta. Ela acha graça na arte de se comer bombons.

Quando acorda já é noite, o mistério das estrelas reluz mil anos luz de sua cabeça. Ainda é outono, caminhando pelo pátio consegue ver na contra luz os galhos despidos, a cada passo o barulinho da secura crocante sob seus pés a faz sentir um pouco de medo e tristeza. É triste ser um galho seco, seria triste morrer nua, sem folhas nem flores.

Agora ela já sabe o que quer, na verdade, gostaria de não morrer nunca, como uma árvore milenar. Eternamente dando frutos e sementes e mais árvores. Povoar o mundo com a eternidade vegetal e orgânica. Tronco em riste olhando para o céu, buscando o calor do sol para alimentar a sua seiva, enfiar as suas raízes para o fundo da terra procurando a água fria, ser abrigo e alimento da fauna e dos homens. E poder ficar no seu silencio despretensiosamente vendo as estações passarem ao sabor das eras.

Decide então com as mãos cavar um pequeno buraco, começou enfiando uma só mão na terra fofa e depois a outra, e depois a outra e a outra novamente, sem parar e conforme cava a terra foi ficando mais úmida, mais perfumada e mais escura.

Quando termina já é quase de manhã, percebe que o buraco é grande o suficiente para que caiba seu corpo todo, deita então no leito, por cima de si coloca algumas folhas e alguns galhos, busca com as mãos pedrinhas para cobrir seus olhos, sua boca e seus ouvidos. Ao poucos se cobre com toda a terra até desaparecer da superfície.

Esta tudo bem agora, é tudo tranqüilidade e paz. Finalmente seria como as outras árvores. Ela não sabe, mas na estação seguinte renasceu como um pessegueiro muito macio e doce.

25/01/2009

Vidas Ordinárias VIII

Ou a História de um relacionamento a dois.

Eles se encontram e : Trepas fodas todo os dias o dia todo > Paixão > Sexo animal cinco vezes por semana> amor > casamento > amor três vezes por semana > filmes só de domingo> amor só de quarta > filmes de sexta a domingo> novelas todos os dias> sexo uma vez a cada quinze dias >um cachorro> um gato> três filhos> uma TV nova >uma amante nova > um personal trainer novo > um divórcio e foram viver felizes para sempre.

Fim.

20/01/2009

Vidas Ordinárias VII

Pedrinho é viciado em video game. Nunca namorou e sabe que essas coisas de gente, são muito complicadas. Uma vez, conheceu uma menina no MSN, ficou tão excitado com a idéia de que poderia fornicar na vida real, que seu banho, esta noite, durou mais que o habitual. Sua mãe, coitada, além de se chamar Neida, um nome um tanto incomum, já tentou seu filho com livros sobre ficção, romances, literatura juvenil. Tudo em vão. Pedrinho fica no vídeo game e sua página no Orkut só tem garotos do RPG. Deprimida, a pobre da mãe experimentou de tudo, psicologia, filosofia e até a bíblia, a que Pedrinho, sem piedade no ardor de sua juventude, questionou –obviamente- o seu maior mistério: que Maria, sem nenhuma foda, engravidou do messias
Hoje é apenas uma terça feira e o peso do tédio corre no ar pesado de chuva, eu sei que tudo o que posso fazer é deixar tecer por meios incompreensíveis a história do meu dia, pois não há nada mais enfadonho do que buscar concorrer com a vida agitada dos urbaholics, agitadores de esquinas, pontos de ônibus lotados e tudo que se repete ad nauseum. Inclusive me é mais que amiga a idéia de me mudar para um mundo mais particular, um lugar onde o tempo não chegue e eu possa discorrer sobre todas estas idéias sem me preocupar em preocupar alguém.

Só existe uma possibilidade real, uma nova pessoa deve nascer dos escombros da criação. E romper meu método, me tirando da embriaguez e da sonolência em que me encontro. E será ela quem irá traçar, nas linhas do dia a dia, a tônica da sobrevivência literária, será a célula inteligente do processo quotidiano. Me libertará todas as manhãs saber que a transformação pode ser efetuada a qualquer minuto e quando eu quiser minha persona sairá não só de minha cabeça mas de meu coração e vai trilhar, impetuosamente, os caminhos que o destino lhe impôs, desde já, antes de seu nascimento, sua sina será traçada a ferro e fogo.