09/02/2009

Ensaio

É preciso escrever. Para se entender os desejos, para que os outros leiam e os entendam. É preciso escrever para elucidar os maiores mistérios do coração, só assim, desdobrando as palavras que voam pela cabeça é possível compreender e ser compreendido. O amor deve ser escrito, o desejo deve ser escrito, as pessoas, tão singulares, devem ser escritas.

Mas elas nunca querem. Nunca querem ser um personagem no papel. É intrusivo, eu sei, mas como poder explicar e definir a tênue linha que separa o eu verdadeiro do eu poético? Como dizer a alguém o que se sente com tantas palavras saindo pela boca, com os olhos nos olhos? Elas não acreditam. Não aceitam a possibilidade de serem pensadas e repensadas. As pessoas não são personagens, e por isso relutam em participar das histórias que escrevo.

Eu ainda te amo. Foi culpa minha te deixar ir. Eu sei que você não quer partir meu coração. Me perdoe. Eu ainda vou te roubar pra mim, você vai ver. Hoje acordei e percebi que havia caído da cama. Je t’aime encore. Je t’aime toujour.

Só as palavras sabem a essência do desejo. Porque elas não precisam do corpo para provar a sua veracidade. Elas vem de um lugar distante, de trás do cérebro, de baixo da língua, elas vem do âmago, do centro do peito.

A poesia liberta e com ela é possível alcançar o coração daquele outro distante. É poder dizer, em cada parágrafo, coisas que os olhos não podem ver, coisas que os ouvidos não podem ouvir. Nem o sussurro do amante tem tanto poder. Nem a lágrima mais chorosa alivia a dor. É preciso escrever e dizer letra por letra o que não pode ser dito nas entre linhas. São mensagens diretas, e o alvo nem sempre é aquele que acha que é.

Escrevo não para alimentar o ego daquele que ponho no papel, escrevo para alimentar a minha alma. Porque só existe uma pessoa. Só existe o eu. As pessoas deixam pistas, frases soltas, caras engraçadas. Mas tudo isso não é para elas, quando escrevo sobre elas é para mim mesma que escrevo. Sou eu que preciso ver a alma, e escrever alivia a tensão do pensamento. Posso dormir melhor. Dormir e sonhar.

Você é o meu melhor amigo. Você é incrível. Você é lindo. Quando eu morrer, você vai chorar? Eu falo com Deus todas as noites. Morro de saudades, mas não voltarei tão cedo. Eu posso te perdoar, mas preciso saber, se você precisa do meu perdão. Eu preciso.

Escrever é preciso. O escritor alcança a eternidade quando consegue sublimar suas idéias, quando o poema rima e até quando escreve uma carta de amor que nunca será lida. O papel é o lugar comum da ficção e da realidade, onde elas podem conviver sem conflitos. Quem escreve exorciza, expurga o mal que devora por dentro.

Quem escreve vive tudo o que tem para ser vivido, pois só ali, onde o tempo não opera, é que vive o poeta. Lá eu não morrerei nunca.

5 comentários:

Anônimo disse...

Sempre um texto muito bom...

Anônimo disse...

De l'aube claire jusqu'à la fin du jour
Je t'aime encore, tu sais, je t'aime

Anônimo disse...

Elas vem de um lugar distante, de trás do cérebro, de baixo da língua, elas vem do âmago, do centro do peito.

palavra é coisa física.

zé maia disse...

como é que tá esse mundo caindo aos pedaços aí?

boo. disse...

gostei. :)