06/12/2009

O Filho

Esse já nasceu quase morto
não tinha um braço e seus
dentes nunca nasceram.
Os olhos quando bons
viam cores, porém, sempre
opacas e embaçadas.
Como tentaram amar aquele monstro,
beijando-lhe a fronte meio amarelada,
todos os dias e todas as noites.
Mesmo com repulsa deram seus dedos
para que a frágil mão os segurassem.
Durante um tempo alimentaram-no
com amor, com zelo.
Depois, só queriam ver de longe
aquele rebento,
pois seu odor de podridão doía-lhes
o nariz e dava náuseas.
Tentaram crer que aquilo era o filho,
o presente maior do que há de amor
entre duas pessoas.
Mas aquilo não era o filho,
aquilo de perto não era nada.
Aos poucos davam-lhe só água,
a porta do quarto ficava sempre fechada.
Até que um dia esqueceram-se dele,
não olharam uma última vez seu
rostinho doente.
Apenas mudaram-se de casa
e deixaram para o festim das baratas
o pobre corpo sem nome.

Um comentário:

Yves Junqueira disse...

Anos depois, operários da empresa de esgoto encontraram o menino vivo, criado pelas baratas. Alguns dizem que é primo distante do Gregor Samsa.