31/05/2007
Senzala
Às seis da manhã:
Lavar o rosto, acalmar no corpo
o calor da febre terçã.
O corpo rijo como um cavalo,
marcas de aço no seu rosto roto.
Negro amargo, sem dentes
na boca de comer arroz e osso.
De morrer cada dia um pouco.
De encher seu bucho morto.
De morrer negro no lodo
Igual a cor da sua pele,
remexe dentro do poço,
No estreito poço o seu corpo cavalar.
Definição
claro e leve, voando solto
como oxigênio no meu corpo.
O amor é quente e bobo,
como um bebê ao nascer.
E azul celeste, leve.
Leve e bobo
De um azul celeste.
E breve.
Breve,
tão breve,
que me vem
como
uma
e
s
t
a
ç
ã
o
...
Domingo
estampando o vermelho rosado
dos último raios de sol.
Como uma fotografia na fina película
fixa-se em minha carne,
em meus ossos, e minhas unhas
tornado-se mais pesada
mais cansada e mais completa.
Cansada e feliz com o tom de
romãs rachando as cascas
maduras no pé.
Sinto-me como uma fruta madura,
escura e robusta.
Descansada por ter o sol se ido,
e jogado por cima frescas brisas
marinhas ao fim do dia.
Me sinto do mundo o umbigo,
nesse último soprar de domingo
deixando-me levar todos os pensamentos
fulgazes]
Cuidado
Às vezes eu penso:
Meu amor não agüentaria ser jogado assim no lixo.
Portanto que sejam verdadeiras todas as juras.
E se for para ser breve, que seja intenso.
Ia doer, talvez doesse só um tiquinho.
Talvez nem dor eu sentisse.
Mas ia ver a feiúra
De um dia sem pintura.
Então,
Não se iluda.
Mesmo que seja mentira,
Aquilo que na sua boca se insinua.
Me faça acreditar que naquele momento,
Tudo o que for para ser, vai ser por inteiro.
29/05/2007
De Camille - porque eu acho ela muito sensível
[When I walk, I'm walking straight and when the night falls, I fall as well.]
Quand je marche, je marche
quand je dors, je dors
quand je chante, je chante
je m'abandonne
Quand je marche, je marche droit
quand je chante, je chante nue
et quand j'aime, je n'aime que toi
quand j'y pense, je ne dors plus
Je suis ici
je suis dedans
je suis debout
je ne me moquerai plus de tout
"Entends tu, m'as-tu dit,
le chant du monde", alors depuis
quand l'aube se lève, je la suis
et quand la nuit tombe
je tombe aussi
Je suis ici
je suis dedans
je suis debout
je ne me moquerai plus de tout
Quand j'ai faim, tout me nourrit
le cri des chiens, et puis la pluie
quand tu pars, je reste ici
je m'abandonne
et je t'oublie.
28/05/2007
E quem quiser julgar- que o sofra
Ninguém aprende com a cabeça, mas com a carne
E a carne não é fraca, ela é estúpida
Sair do poço é sempre um ato de heroísmo
E ser herói, não é ser forte
É ter coragem de ser fraco.
É por, repor, transpor, sem dispor.
Se as experiências fossem transmissíveis
Este seria um mundo de sábios
Mas só nascemos de nosso próprio parto
E só vivemos de fato quando já
Morremos mil vezes e mais uma.
Ivan
Ivan, que rima com Imã
Que me pega bem nos botões.
Ivan, que rima com romã
Que rima com eu e você
Mesmo que isso não rime.
Eu coloquei no poema.
Porque eu te prometi um poema.
E aqui ele está:
Ivan que rima com céu
Que rima com um melzinho doce
Do seu hálito.
Ivan, rima comigo.
E eu assim fico.
Doida pra te escrever.
Sebastian
Sebastian saiu correndo pelo gramado.
Pegou a bola, jogou no gato, uma pedrinha,
Uma folha e um galho
E lá estava ele pirateando.
Peito estreito e branco
Sebastian era quase um menino
Mas era mais menino que os outros do bairro!
Gostava de dizer, assim mesmo ao acordar:
Mamãe quero leite da vaca
E la ia ela correndo buscar para o pequeno
Um copo cheio e morno direto das tetas.
E sorria e cantarolava
Na alegria da infância serena
Ser Sebastian para ele já bastava.
23/05/2007
cigarro
São nos objetos do quarto onde está o frio
E mesmo assim dentro de mim não há nada
Não há nada em lugar algum.
E deixasse uma vez só mostrar a pele
Deixar ela respirar o pó do mundo
Pois não há nada em lugar algum.
Talvez melhor assim preenchido
Só as portas aqui fazem barulho
Uma atrás da outra elas se fecham.
Nem a luz consegue chegar aqui
Neste silêncio profundo
Onde só as portas fazem barulho.
Onde só a chuva faz barulho.
Neste fim cinza escuro.
Pois não há mais nada.
21/05/2007
É o Fim
E lamentavelmente a vida
Nos mostrou a verdade
Que é dolorida
Que é pessimista.
E como te dizer que
Depois de tudo o que passou
Ainda te amo
Mas não posso!
Não posso mais sofrer assim
É o Fim.
Por quais caminhos
Nos enveredaremos agora?
Mudastes tanto a tua rota
E me isolastes por tanto tempo
No porão do esquecimento
É o fim.
Custa-me a enxergar
A luz novamente
Enxergar por que fomos
Tão errantes
Em nos embalarmos com essa
Mágica música do Amor
Que parou
Que passou
Que voou
Para longe de nosso controle
Triste fim para um amor assim.
16/05/2007
O poeta abandonado
e depois pode partir
não precisa se despedir
ou beijar a minha tez.
Sonhar um querer
e ter de ti pesadelos
só mais uma vez
tentei com tanto zelo
Agora deixe que eu morra
sozinha sem teu olhar
secando minhas pupilas
Só mais uma vez poderei
agora que enfim se vai
morrer morrer morrer.
Sonolência
sem peso, sem medo
Como tolos perdem a alvorada
como tolos ficam no travesseiro a sonhar
com um sol que já nasceu
Esperando a noite chegar para enfim
acordarem nas estrelas do céu.
Sempre nas estrelas
Sempre na Lua
pequenos seres do espaço sonífero
dormindo
dormindo
dormindo
15/05/2007
Joana.
Pegou o telefone, discou, esperou, desligou; daí ligou de novo:
"Alô, André? Eu te acordei? É, eu sei que tá cedo, mas é que eu tomei uma decisão...Qual? Ahm..."
Ligou pra falar mas não falou, inventou uma historinha qualquer.
"Você vem almoçar aqui hoje?Vou fazer aquele macarrão, aquele que você gosta tanto."
Já havia uma semana que não dormia, um misto de medo infantil e ansiedade. Escreveu no seu diário que o ser humano quanto mais pensa menos evolui e realizou que a evolução depende muito mais de um estado de deixar-se estar do que realmente tentar resolver os problemas em questão.
Uma partícula de onda gigante, era só ela e no entando precisava de toda uma massa de energia para poder mover-se. A humanidade, refletiu. Não seria fácil levantar-se da cama hoje, tinha medo de começar o dia e não poder terminá-lo como queria, ia dar tudo errado.Tinha mais que certeza, mas não podia deixar que tudo isso a tomasse por inteiro. Tirou o pijama na cama mesmo, saiu nua para o chuveiro, banho frio, esqueceu de escovar os dentes e saiu direto pra rua.
O Amor em Três Atos.
“Amor, porque você nunca escreveu um poema sobre mim?”
“Eu não sou bom com as palavras..não sei rimar amor e dor”
Eu sempre a achei meio burra, mas às vezes, me emociona a burrice dela. Me emociona como ela me olha vazio, buscando compreender as sutilezas que a vida tem. Parece um cachorrinho, uma gatinha. Um pássaro até...Os pássaros tem o olhar animal mais burro que já vi.
“Mas você é fotografo, então é artista, e todo artista sabe escrever poesia.”
“Não querida, isso não quer dizer nada. Me passa o café, por favor?”
“Não. Eu quero que você escreva algo sobre mim. Para a posteridade”
“Você ainda não morreu Ana, então eu não preciso escrever nada sobre você.”
***
Quando eu menos percebi, ela já estava acordando ao meu lado. A primeira vez foi chocante, quase idílico. Ana...É vago na minha memória o dia exato em que nos conhecemos. Pode ter sido num café, perto do meu trabalho. Ou na vernissage de algum pintor de quinta em alguma galeria de quinta. A verdade é que não tenho boa memória. Poderia ter sido qualquer outra mulher acordando ao me lado. Qualquer uma. Se elas não abrem a boca, eu praticamente apago os vestígios delas em minha vida. Mas eu me lembro a primeira coisa que Ana falou quando acordou:
“Nossa, aquilo é um pássaro? Que coisa estranha...”
“Não, parece um pássaro, mas na verdade é um tennis numa árvore... Uma fase minha meio... abstrata.”
“Ah... abstrata é? Eu também tive uma fase abstrata, eu te falei que adoro pintar?”
Foi aí que eu olhei melhor para ela, o cabelo desarrumado, pintado de um vermelho vulgar, não conseguia associá-la a nada, nem a ninguém. Uma estranha que gostava de pintar.
“Eu pintava umas manchas, mas isso era na época em que eu não sabia pintar, agora que eu fiz o curso, quero pintar retratos das pessoas, especialmente das minhas amigas”
Enquanto ela falava, eu acendi um cigarro.
“Você fuma?”
“Não fumo não, cigarro estraga a pele.”
“Então vamos trepar.”
A trepa foi ótima. Adoro o cheiro amanhecido da mulher. Perfume doce com suor, com hálito. E foi por isso que me apaixonei pela Ana, ela era barata, mas muito gostosa.
***
O que eu entendo como amor é simples. E por isso amo a Ana. Simplicidade é o nome do jogo, do jogo dela. Faça as perguntas certas, responda vagamente, trepe três vezes por semana. E quando acaba, tem que acabar de vez. Como um dia que amanhece. Esse lance de guarda a calcinha, fotos, frasco de perfume, é coisa de apaixonado não correspondido.
“ Tira uma foto minha, amor. Você tira foto daquelas modelos todas, mas não tira as minhas...”
“ Não posso fazer isso com você Ana.”
“Por quê?”
“Porque no dia que você me deixar, ou no dia em que tudo acabar. Eu vou olhar praquelas fotos e vou ter que te odiar.E eu não quero te odiar, só vou querer te esquecer.”
“Você é tão romântico, bruto, mas romântico.”
Essa foi a última vez em que trepamos. Mulher burra cansa também. Eu olhava pra ela, dentro de seus olhos de vidro azul e não conseguia enxergar sua alma. Talvez a Ana não tivesse alma. Ou tivesse alma de gato. Perdi o tesão nela quando ela pediu pra eu não a esquecer. Mas já esqueci. Até do seu cheiro eu esqueci. Só restou mesmo um pedacinho de guardanapo com uma poesia que ela escreveu.
A Ana era muito burra, mas era sensível.
03/05/2007
Penso Logo Desisto
Eu sou apenas um ser
Sem estar, nem presente
Apenas na mente
Ou num passado distante
Quase inexistente
Sou, não porque existo
Me defino apenas como um som.
Sadomasoquismo
A dor existe para que a verdade ame
e dê sentido ao que logo se extingue
depois de cada beijo
cada ferida marcada no beiço
cada estalar de cada dedo nos seios.
Só prevalece o silêncio
para que se sinta desmiuçadamente
os suspiros prazerosos
as lágrimas cândidas
do amor sofrido.
Nem a solidão dói mais
Nem o abandono entristece
Pois o que não mata, fortalece
esse coração que só ama.
Ama e ama e nunca desvanece
aborto II
e já não mais sei como pensar nisso
abortei de mim um ser sem rosto
sem nome
Não saberia o que fazer
por desespero, desisti
calei-me e chorei a cólica do ventre
"Nunca pensei que..."
"Não, não seria possível..."
"logo eu, um ser tão pacífico..."
Deixei-me levar pela tormenta
será que sou uma assassina?
Será que simplesmente aparei
as pontas tortas do caminho?
Tão confuso
Tão só, tão sombrio...
uma flor em decomposição
não existe mais sentimento
onde antes era só desilusão
Meu corpo, esse imenso balão
flutúa solto no ar rarefeito
por dentro ozônio e carvão
por fora só sorrisos de efeito
E adormeço desse jeito
amuada em meus braços
sozinha no frio do leito
sonhando com enormes vasos
sonho com águas de fundo
sonho com águas de fundo raso
que poderiam alimentar a flor
pois dentro de mim eu cavo
a vala onde deita a dor.
Back to mine
Back to me
Back to my home sweet home
That’s all I want indeed
But for now I just know
I just can know one little thing
That I’m on my own, no more with you
Once I’ve been enjoying truly
Sadness is human, loneliness it is too
But suffering no one can feel
Is such a big pain that’s unbearable still.
But for now nothing really has changed
I still feel the obstacle that I put on my way
Don’t cry there, I wont cry here
We have to forget ( and forgive) together
Those moments of happiness
A andré
André, mal lembro dos teus olhos
-quiças sóbrios?
De você só tenho números em outras agendas
Poderia se ter mantido mudo
mas não o fez.
Te dou dez cavalos, André
E você fica comigo.
Vou à praia, ao ibirapuera
a um show qualquer, André.
Por quê não me ligou mais?
Agora somos (os dois) incapazes.
Ouviríamo jazz
E eu deixarei você continar sendo o que é.
aborto
Temo toda vez que vejo o sangue ralo vermelho
Que desce ainda pela memória, nas mãos, nos meus peitos inchados
O meu corpo é agora um cine-ilusão
Depois, antes e durante
Os hormônios me dizem ; sim, sim e não.
Será que estou ou não?
Não é para rimar esta triste poesia
É só para aliviar a ausência da presença
Que engulo todo dia como uma hóstia sem poder falar
Fui eu.
Neste corpo frágil
Arranquei toda a era daninha
Revolvi a terra fértil e deixei que tudo acontecesse
E o pior é que não estou sozinha
Mas o corpo ainda é meu
E só em mim tudo, tudo, absolutamente tudo.
Ensaio sobre as Mãos - baseado em Vinicius
silencioso e branco como a bruma
e das bocas unidas fez-se a espuma
e das mãos espalmadas fez-se o espanto"
e das mãos espalmadas fez-se o encanto
tornou-se os olhos d'alma
um breve susto ao tocar o mundo
com as pontas dos dedos
ao sentir que tudo a sua volta estava
e estará em alto relevo
um braile romântico
e pensar que mesmo surdo ou mudo
consigo todas as músicas cantar
fazer das mãos côncavas conchas do mar
onde ressoam as letras
as palavras e o som
tenhos os olhos em minhas mãos
tenhos os ouvidos em minhas mãos
tenho em fim,
o começo e o fim de meu corpo
e então, por mais que eu busque
um lugar neste planeta sensação
tenho, acima de tudo
o mundo em minhas mãos.
Pé de Caqui
Foi um pé de caqui
Com os cachos cheios de frutos
Frutos verde-amarelos que não comi
Não comi porque estão adstrin
Adstring, gentes
Nunca havia visto um pé
Desse caqui amarelo verde
Todos juntos num enorme galho
Há mais de um por ali
Ali, onde nascem os caquis
Impressionantes cachos cheios
Me saliva a boca
E hoje a noite vou sonhar com eles
Sonhar que estou em seus galhos
Comendo sua carne e matando a minha sede.
Guerrilha
E meus braços são de aço
Minh'alma de marfim
E não importa o faças, nada vai perfurá-la
Meus olhos são de jade
mas meus lábios de cetim
Então não tente fazer nada
pois nós dois sabemos do poder das palavras
E o quanto elas pode ser como navalhas
Eu sei que suas armas são fracas
Todas elas sem muniçã0
Fique atento, meu bem
Eu sei de todas as suas estratégias
Para sangrar meu pobre coração
Antagonismo
que não me levantarei hoje!
Aos padres
que vão para o inferno!
Às damas e senhoras (com todo o respeito)
pervertidas reprimidas!
Aos assassinos
que continuo viva!
Para as crianças
diga apenas que isto é uma dança.
Aos rafaéis, daniéis, bernados e a todos
aqueles do sexo oposto,
que menti de coração!
E a todos os inimigos (se me permitem)
que estou do vosso lado.
Diga ao mundo que hoje é um domingo e feriado,
e que estou aberta a todo tipo de comércio,
e a todas as controvérsias!
Blue blue blue
você chora a toda hora quando vê o noticiário,
E te perguntaram se está tudo bem.
Você pensa duas vezes, se engole, se devora,
mas responde triste: Este mundo não tá nada blue.
Mas mesmo assim,
você vai ao supermercado e compra qualquer coisa
rotulada, válida, fora de hora.
E te falam bem baixinho quando vai chegando ao caixa
que esse mundo não tá nada blue.
Cadê o seu sorriso quando mais precisa dele?
Daí você se lembra dos dentes que não tem,
e dá um sorriso banguelo na frente do espelho.
Se lembra do encanamento, do chuveiro, do seu sexo
e do mal cheiro que sai do ralo.
Mas que caralho!
Esse mundo não está nada bem!
Nostalgia do Abandonado
me afogando nas tuas pesadas palavras
e sua falta bate em meu peito
fazendo rolar duas grossas lágrimas
O vazio toma conta de mim aos poucos
e me calo.
É como se eu estivesse só neste mundo
e a única coisa que restasse fosse a lembrança
tão nítida, tão real do seu sorriso.
Grito! Mas ninguém me ouve.
Meu desespero é tão grande amor,
e a dor me espreita pela janela.
tenho tanto medo!
O meu receio, é como o frio
que penetra pelas minhas costas e
me toma pelos braços.
Você está tão longe, amor.
Mas sinto o teu calor nos meus lábios,
Ah, não sei como expressar a sua ausência.
Áspera ausência.
Me perdoa, diga que me perdoa.
Pois não durmo sem antes chorar
lamentar o meu erro.
Tú és tão único quanto um coração
a um pobre homem.
Me perdoa.
E serei o único ser que sorrirá
quando o breu da noite cair
sobre o mórbido dia.
02/05/2007
O poeta que ficou triste
de rimar amor com cor
e de chorar.
E escrever enquanto de esperava
sobre coisas da vida
sobre a sacada
sobre nossas brigas.
Me cansei também de falar de poemas,
de jogos de palavras isentas,
de sentimentos inventados.
Me cansei de ficar aqui,
parada, pensando.
Pensando no que escrever
nos poemas que falam de prazer,
e de sexo de sabor de objetos.
Não quero mais criar e recriar palavras
duras palavras que me esforço em relatar
nas linhas do papel.
É tudo tão sutil, percebe?
Cansei de observar as cores do outono
E dos outros que passam por mim.
Ando tão deligada,
que se pudesse não faria mais nada além de dormir.
Não quero mais pensar no que falar,
antes de agir com atos cada vez mais banais.
A vida parece um filme colorido,
que percorre no seu próprio ritmo.
Terminando por aqui eu digo:
Não quero mais soletrar sobre o céu
azul da cor do mar.
Quero me afogar!
Sim, isso me faz sentir viva,
Enquanto eu digo aos outros: não desista!
Desmaio sem ar no meio de meus pensamentos
fulgazes.
Soneto da Saudade
horas e horas apenas
Da boca apenas o sorriso,
apenas os olhos, fixos apenas.
Apenas o azul do céu
apenas um simples céu,
azul apenas
Deixado pelas ruas amenas.
Você deixou aqui
uma parte de ti apenas
que féri sem sentir pena.
Apenas algumas cenas
estreitas e pequenas,
apenas saudade.
LAUGH
Vamos, pode rir.
Ria da minha cara
Ria do meu corpo
"rárárá"
Do meu péssimo papel de protagonista
Do meu mau gosto
Das minhas gírias
"desires"
Mas diga,
mesmo assim diga:
Que fui linda quando queria
Que ao menos me desejou.
Ria.
Ria enquanto tenha dentes.
Sentindo ( sentido)
faça uma síntese de mim
me sinto tão só.
Olhe,
escreva um resumo de
minhas lágrimas
estou tão amarga.
Percebe?
Mostre-me,
dê-me uma chance
de me deitar no seu colo.
Verbos
Fatos matam mais que falsos abraços
Estou sangrando sozinha conjugando
todos os atos
Todos os verbos que te tua boca
saltaram
me afogaram
Soneta da Sala De Jantar
as cadeiras frias, contidas
de uma madeira preta
rachada, calada, sozinha
O chão de verniz
na sala de jantar
reflete faces vis
de momentos banais
A toalha rendada
escondendo as fendas
velhas e feias da mesa
A sala sombria
assombrada por reles fantasmas
sentados sobre o pó.
Ira
tô cansada da tua cara
to cansada da tv
to cansada desta casa
Por mim mudaria tudo
colocaria um muro
entre eu e você
Atearia fogo no armário
faria um escândalo
Seria deportada
Assassinada
Por isso me cansei desta porta
vou joga-la fora
e fugir para longre daqui.
Soneto do Poeta Apaixonado
este pobre coração
o colorido das plantas
o ritmo da canção
O brilho do sol
O frio da estação
então foi-se embora
sem dizer a direção
Restou-me apenas a solidão
um soneto e um refrão
apenas estes poucos versos
Porque você roubou até os verbos
e agora não faz mais sentido
caminhar sozinho pela escuridão.
Imagem
eu sinto na boca descontente
com o peso ardente de meu corpo desforme
com contornos sobressalhentes.
Na frente do espelho observo dedo por dedo
cada detalhe me é revelado
cada esquina minha nua, triste, assustada.
Vejo a minha silhueta na meia luz do quarto
e vejo cada erro considerável
que ficou pregado na minha memória.
Em todas as partes, nos joelhos, nos calcânhares,
uma insatisfação imensa me dá um arrepio.
Sinto minhas mãos pequenas
tão pequenas...
Passo-as nos cabelos, nos meus poucos cabelos
que escondem meus pensamentos de sabor azedo.
Miopia
um ponto-isca para equilibrar-se
e não via, mesmo forçando
sua mais nítida perspectiva
Uma imagem sequer perfeita, ou vesga.
Imagens duplas, ilusões multiplas
Apertada os olhos, os pulmões, a boca
apertava os dedos, os medos, os tendões.
Mas nada se formava na sua retina.
Estava tão perdido, sozinho
enroscado no anti-realismo
projetado pelos seus neurons
neutrons e elétrons.
Seria ódio? Seria Amor?
Soneto
Dois verbos e dois tercetos
E talvez alguns termos sinceros
E uma pitada de dor no peito
Só um soneto resumiria tudo!
Faria de uma novela, um ato
Dentro do pequeno palco escuro
- Mas que sonho açucarado
Pareço até um velho burro
Sonhando com este soneto
Que não existe neste mundo
Apenas dentro de meu tormento
Queria eu escrever um soneto
Que terminasse sorrindo e vermehlo.
Não Somente
unhas no escuro quarto
engolindo soluços como sapos
esperando alguém te chamar.
Não deixarei te machucarem
te estuprarem, te arrancarem
o coro do corpo com a dor!
te marcarem o rosto com picadas letais
Não!
Não te abandonarei às feras
no meio da arena repleta
de risos banais
E te ver morrer lentamente
cada parte de teu corpo
dócilmente
se ar.