04/11/2008

vagamundo

Quero estar em muitos lugares agora. Desejo me desprender de meu corpo e poder flutuar entre as fronteiras de meu país, com a mesma facilidade com a qual vagueia meu pensamento. Hoje sinto uma imensa necessidade de não estar mais em São Paulo, como se esta cidade não me pertencesse, pequenas migalhas de pão, ainda fazem parte do pão, mesmo que este não exista mais. Em mim, só existe um resíduo desta cidade, um esgar de seu esgoto, uma pequena migalha dela em mim.

Quando viajo, não me importa o destino, o que importa é distrair o meu olhar em outras paisagens, é poder sentir o perfume de outras ruas – estradas asfaltadas ou de terra úmida- repousar meu corpo numa cama dura de um hotel ou quem sabe de um quarto amigo. O abraço do desconhecido inebria o meu corpo branco, invernal, austral. Sendo assim me apaixono facilmente, sempre fui uma pessoa que cai de amores pelo desconhecido, e nessas situações, poderia me casar com o gato preso por uma cordinha num barraco de madeira, ou me ajuntar com um pescador e seu pesqueiro, viver de amores com uma fazendo de ostras à beira-mar. Eternas luas de mel com outros céus azuis, outras noites estreladas. Amar sempre amando o distante, pois nele repouso minha criatividade, minhas brincadeiras oníricas.

Estando sempre tão longe daqui, posso desejar morrer em terras estrangeiras. Decido, em partes, que meu coração pertence a outro lugar, mas nunca sei a onde, pois todas as cidades me entorpecem, e em todas quero estar e estabelecer uma nova vida, poder acordar todos os dias nos próximos anos e fazer novas amizades, comer novas frutas da região, tomar um banho de mar se no mar eu estiver, ou acampar em alguma montanha que acerca meu novo lar.

São apenas paixões, meu coração começa a bater mais rápido e de súbito determino: aqui é o lugar. Sempre quis viver fora de São Paulo. Acordo no outro dia chorando com a possibilidade que é uma areia movediça que me engole assim que decido pisar fundo, e o véu cai de meus olhos, percebo que na verdade aquilo também foi uma cilada. Aquela outra cidade é toda uma cilada. O que eu faço? Lá pode estar todos os pequenos objetos e flores que nunca vi antes, mas... E o não estiver lá?

O que não estiver lá deverei abdicar: E como não sei abdicar!Pois quando me apaixono caio em transe e não consigo abrir mão para que possa sofrer um tiquinho da dor da imperfeição, me vejo novamente envolta por um sentimento de desafeto e humilhação. Volto para a Casa, a minha, como a criança pronta para tomar uma surra da mãe depois de uma travessura. Fecho os olhos e tento respirar fundo as lembranças que ficaram em minha memória, aperto as mãos e sinto suavemente a textura do mundo novo que deixei para trás. Abro as mãos e é como se toda a vida escorresse dela.

O caminho da volta pode ter muitos sentidos, pode ser um recomeço como poder se o fim. Ontem achei que fosse o fim, achei que seria a ultima vez que voltaria para aquela casa, coloquei uma pedra em meu coração e deixei que ela pesasse. Olhando o horizonte – mais laranja e vermelho do que nunca- pela janela do avião mandei um beijo para o nada, para o ar que respirei, que me alimentou e me oxigenou.

Cedo a um breve sono e ao acordar volto a olhar pela janela, o que encontro é uma pintura moderna, uma via láctea térrea cobrindo toda a extensão do meu olhar. Na escuridão muitas luzes artificiais compunham um cenário futurista, nos espaços das ruas, amontoavam-se faróis de carros, dando a impressão de que aquilo era uma cachoeira de luz, pelo espaço, espalhadas e esfumaçadas, pontos de letreiros azuis e vermelhos manchavam o reinado do escuro e claro.

Achei a imagem bela e não mais me sucumbi ao medo do retorno, a feiúra de São Paulo desapareceu naquele momento e do céu tive uma visão sublime do que poderia ser aquela cidade e porque de algum modo a amo e me apaixono por ela outra vez. Mas um dia verei a feiúra de um céu sem pintura novamente, e então recomeçarei a minha busca. Levarei um par de sapatos e um óculos de sol, para qualquer outro lugar.

2 comentários:

Anônimo disse...

bem vinda, então. porque nunca é de tudo igual. mas vc me deve um café em sp. e isso vai sempre ser igual.

beijos, bonita.

Ivan Pires disse...

é tuddo isso que eu preciso tambem.
mas com voce.