11/11/2008

Paulo

Hoje, e nos últimos dias da minha vida, eu não tenho me levantando. Não tenho me levantado não por nenhuma razão além da compreensão humana, senão pelo único fato de que a vida não está me apetecendo. Não me apetece sair pelas ruas, sociabilizando com qualquer um que me passe pela frente. Me sinto deprimido. Me sinto acuado pela imensidão social da cidade. Me sinto em nervos, e no fundo, sinto também que para isso não existe uma cura exata. Meu último gole de água da garrafa que ficava ao lado de minha cama eu já tomei. E agora, o que me resta, é repousar na escuridão deste quarto e refletir sobre os conflitos sociológicos urbanos mais recentes.

Vejamos.

Por que eu deveria amar a vida? Nunca houve tanta fome neste mundo, tanta miséria como agora, e então porque justamente eu tenho que amar a vida, e fazer dela uma festa? Como posso falar com alguém : Ola, sou Paulo, trabalho na bolsa de valores etc, etc, etc. Como poderia ousar tal façanha enquanto no norte do país pessoas morrem, literalmente, de fome.

A verdade é que eu falhei. Falhei socialmente, falhei emocionalmente, falhei como ser humano. Mas assumo a minha incoerência psíquica; meu desequilíbrio emocional é só um reflexo da imensidão desorganizada do mundo. E por isso acho que a injustiça é regra, e não exceção.

Não posso encarar as ruas, as calçadas, o meu trabalho depois que Rita me deixou. Ela não somente me deixou, como me deixou só. Ela se foi, e sem explicação. Sem razão. Por isso, não acredito na vida, mas também não tenho o direito de reclamar como um bossal. Ela tinha um perfil de mulher gênio e nisso a gente combinava. Antes, claro, bem antes de eu entender tudo, e entender que ela não poderia fazer parte do meu mundo. E que o mundo dela, por demais criativo e reluzente, e cheio de iniciativas iria se chocar, gradativamente com o meu.

Mas isso é outra história. É outra história porque agora, o que quero, é escrever de mim, e sobre o que eu sinto.

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