Me sinto na iminência de novo
Os ventos me empurram para o abismo
e as cordas que me seguravam já não
dão mais conta da tração
A vertigem me puxa pra baixo
de novo, não posso olhar para o chão
Nada pode me segurar agora
Nada pode deter em mim essa sensação
Não há consolo
Nem uma mão
Que segure meus pés firmes
Que segure meus cabelos
Os ventos urgem em me derrubar
Eu sei, contra a natureza somos
inúteis
Meu coração não quer acreditar
Mas estou na iminência
Meu corpo cede aos poucos
Minhas forças se esvaíram
Deixe, deixe te levar
Eu escuto
Deixe, deixe o tempo se encarregar
Queria ser surda
Queria ser cega
Soltar o corpo na queda e ir rumo
as profundezas desconhecidas
Ser engolida de uma vez abaixo
da superfície serena da razão
Ficar no silêncio e na escuridão
Na calma monotonia das tardes
Na certeza do não-acontecimento
Dormir serena longe desses ventos
Eu queria
Parar de sacudir ao bel-prazer da vida
Estou na iminência de novo
Meu corpo é só peso
Só chumbo e prata
Tento me arrastar para longe dessa borda
Mas do outro lado, que ironia
Já não existe mais a porta
É só daqui pra frente
Então vá, eu escuto
A linha é sempre reta
Nunca como uma serpente
Não se desengane
Agora é cara ou coroa
papel ou pedra.
21/01/2010
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