Hoje não me sinto triste nem melancólica, sinto-me apenas vazia de qualquer sentimento depressivo ou alegre. Nada, neste momento transformaria essa sensação em algo explicável. Seja como for sinto às vezes vontade de chorar, como se chorar abrisse um canal estancado no meu peito, se me aquieto e ouço os meus órgãos pulsarem vem junta essa vontade de me desabar para um centro como água que entra por um ralo e no momento seguinte volta. Esse movimento de expiração e inspiração que me toma quando paro, mas não penso, apenas paro para sentir tudo isso que não estou sentindo.
Ontem desabei, mas não soube porquê. No fundo tenho medo de perceber que de fato sei de tudo, tenho consciência da negritude que está tomando conta do meu interior, a ausência de luz de calor ,de algo que me consuma. Ontem abandonei-me a mim mesma, tornei-me mãe e filha de meu corpo pois não quero outros braços não quero outras explicações, quero somente a inércia, a placidez da água parada em um lago, a imobilidade de uma pequena estátua de jardim.
Não me obrigo a achar explicações para tudo, deve sempre haver uma reflexão sem a necessidade de um fim, de um ponto final. Refletir incessantemente pode levar-me a um estado de beatitude, desenrolar meu ser sobre o universo infinitamente até torna-me um ponto de luz, uma molécula sem começo nem fim. É este o meu objetivo agora, ser compactada afim de que a minha energia se aglomere e então eu possa reviver. Assim me sinto neste momento semente em estado latente, mas sem energia suficiente para florescer, por isso a inércia, por isso desabar-me, por isso apenas refletir, refletir e refletir.
Se houver uma explicação, se houver em algum momento um pouco de sanidade racional onde eu possa finalmente esclarecer-me, este momento não será agora. Pois adormeço por dentro e não estou sonhando.
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