26/03/2009

A Rã Cinza

Rãzinha bonitinha
Tem uma cara engraçada
Boca grande, quase farta
Quase não fala quando na água
Ela é uma rã cinza
Da pele lisa e macia
As largas falanges das patas
Seguram as pedras enquanto
Observa os dois mosquitos verdes
E com os seus olhos escuros hipnotiza
Nenhum inseto foge a sua língua
Mas é só um leão rugir
Que a rãzinha fica ranzinza
Fecha a cara e nem coachar ela quer
Mas isso dura pouco,
Logo logo quando o sol arde
Lá está ela pelo parque
Pulando de pedra em pedra
Exibindo todo o seu dorso
Esticando as patas e beijando outros sapinhos
Essa rã é um barato
E eu que nem em anfibios me amarro
Simpatizei com o tal bicho
A ponto de querer virar eu mesma
Uma joaninha um besouro ou ratinho
E sentar numa folha perto dela
Só pra ser a sua amiga.

13/03/2009

Anatomia do ser ontológico

São tantos os olhos abertos
E muitas as bocas parlantes
São dedos em riste apontando
o onde, a onde ou quando.

Ouvidos há muito atentos
Em volta das cabeças pensantes
E dentro pensamentos estranhos
O que pensam não importa,
O que importa é o restante.

Nos pés cicatrizes
Logo dois correndo em linha
E os joelhos arcados e doloridos
Balançam a frágil bacia.

E no estômago, universo do vazio
Arde em chamas quando atiçado
Sentimentos quentes ou frios
De acordo com o dia e o quadro.

A lingua, molhada tensiona
Os dentes pra dentro e pra fora
Se movimenta como ondas
Nas costas, na nuca, nas coxas.

E dentro do peito, a pedra.
Mineral alado e pulsante
Esfarela-se quando apertado
Dissolvendo-se no meu restante.