Ele vai encontrar alguém melhor que você.
Vai poder dizer que ela é ainda mais nova.
E vai rir da sua cara.
Minha cara, é assim que é.
Você irá encontrá-lo em um bar qualquer.
Tomando cinar com cerveja.
Ele de mãos dadas com a tal gueixa.
Importada da liberdade, centro.
Sem apego.
Cultive o desafeto profundo.
Cuspa na cara da japa,
Que além de mais nova, é mais baixa.
Diga a ele que não perdoa.
A vida é curta e boa.
Suba ela pela augusta sorrindo.
Ligue para o André e o Pedrinho.
Fale que está solteira e danada.
Ponha mini saia e botas.
Lenço no pescoço.
A contra gosto do ex- noivo.
Taca fogo e arrasa.
04/12/2008
02/12/2008
Diálogo II
O sol estava se pondo, foi um domingo de chuva e o céu se abria em azul e cinza no horizonte:
“Quando te vejo eu penso no big Bang.”
“ Então você me vê como uma teoria?”
“Talvez, uma teoria reluzente, complexa.”
Ela se virou contra a janela, suas costas eram largas e perfeitas, a luz atravessava o vidro e pousou alaranjada em seus cabelos e em toda a extensão do seu corpo. Ele acariciou a sua pele e pensava nesse instante em algumas rimas perfeitas.
“Queria escrever um poema sobre você, sobre seu corpo.”
“Eu não sabia que você escrevia poemas, achei que não gostasse. Aquele dia, no bar, eu estava recitando no sarau e a sua cara era de tédio.”
O silêncio ficou pesado no quarto. Ele aproximou sua boca dos ouvidos dela.
“Eu tive ciúmes de você naquele momento. Porque você é tão bela e estava lá, recitando para todos. Eu queria naquele dia que você fosse só minha.”
“ Não posso ser só sua. Na prática, essas coisas não funcionam.”
“Por isso que você é um big Bang, não cabe no meu pequeno espaço.”
“Vamos fazer amor de novo, vou sentir a sua falta.”
Essa última frase que ela disse, foi somente para feri-lo, já havia dado muitas chances, em todas, ele saia pela tangente. Então ela jurou que não ia mais se apaixonar.
Enquanto faziam amor, ele só pensava em como ia ser difícil passar as suas tardes só, não pensava nela, não queria pensar que ela existia. Mas ela, sofria porque no fundo queria ficar ao seu lado e sabia que não podia, não era justo, então tudo o que faria era magoá-lo até que a esquecesse. Era a sua vingança.
Ai, ela abriu os olhos, e fitou longamente os olhos dele:
“ Sabe, existem três tipos de coisas: as determinísticas, as probabilísticas e as caóticas. E pra mim, você é uma das coisas determinísticas.”
Ele de repente ficou surpreso com essa resposta dura, descobrira que para ela, ele não passava de uma parte fixa de seu destino, predestinado, previsível.
“Não há surpresas em você e muito menos no nosso futuro, porque eu já sei o que somos, e nós não poderemos ser mais nada além de dois corpos. Era destino que um dia me apaixonasse, mesmo sendo já determinado que você foderia a minha vida.”
Aquilo doeu em seu coração, como cartas de amor suicidas, aquelas palavras afundaram o que restava de sua ternura por ela. Ele pode entender que aquele big bang havia se espalhado não somente pelo seu espaço, mas por todo o espaço sideral imaginável e que de agora em diante, a verdade do sentimento pendia entre eles penosamente, como uma chuva torrencial.
Seu semblante pesou e um acesso de asma tomou conta dele:
“ se você quer saber , eu não te amo mais, nesse instante, você morreu pra mim.”
O sol já havia se posto, e um vento forte e quente tomava conta do quarto, fazendo um assovio pela fresta da janela de madeira. O mormaço de sexo acabou sendo varrido com o vento e a sensação de grandeza transbordou o ambiente. A cama larga, de lençóis brancos ficou pequena para aqueles dois corpos, ela deslizou para fora e seus pés tocaram o chão frio, seu corpo nu se arrepiou e ele pôde mais uma vez, mesmo sem amor, absorver aquela imagem e guardá-la sabe-se lá onde.
“Quando te vejo eu penso no big Bang.”
“ Então você me vê como uma teoria?”
“Talvez, uma teoria reluzente, complexa.”
Ela se virou contra a janela, suas costas eram largas e perfeitas, a luz atravessava o vidro e pousou alaranjada em seus cabelos e em toda a extensão do seu corpo. Ele acariciou a sua pele e pensava nesse instante em algumas rimas perfeitas.
“Queria escrever um poema sobre você, sobre seu corpo.”
“Eu não sabia que você escrevia poemas, achei que não gostasse. Aquele dia, no bar, eu estava recitando no sarau e a sua cara era de tédio.”
O silêncio ficou pesado no quarto. Ele aproximou sua boca dos ouvidos dela.
“Eu tive ciúmes de você naquele momento. Porque você é tão bela e estava lá, recitando para todos. Eu queria naquele dia que você fosse só minha.”
“ Não posso ser só sua. Na prática, essas coisas não funcionam.”
“Por isso que você é um big Bang, não cabe no meu pequeno espaço.”
“Vamos fazer amor de novo, vou sentir a sua falta.”
Essa última frase que ela disse, foi somente para feri-lo, já havia dado muitas chances, em todas, ele saia pela tangente. Então ela jurou que não ia mais se apaixonar.
Enquanto faziam amor, ele só pensava em como ia ser difícil passar as suas tardes só, não pensava nela, não queria pensar que ela existia. Mas ela, sofria porque no fundo queria ficar ao seu lado e sabia que não podia, não era justo, então tudo o que faria era magoá-lo até que a esquecesse. Era a sua vingança.
Ai, ela abriu os olhos, e fitou longamente os olhos dele:
“ Sabe, existem três tipos de coisas: as determinísticas, as probabilísticas e as caóticas. E pra mim, você é uma das coisas determinísticas.”
Ele de repente ficou surpreso com essa resposta dura, descobrira que para ela, ele não passava de uma parte fixa de seu destino, predestinado, previsível.
“Não há surpresas em você e muito menos no nosso futuro, porque eu já sei o que somos, e nós não poderemos ser mais nada além de dois corpos. Era destino que um dia me apaixonasse, mesmo sendo já determinado que você foderia a minha vida.”
Aquilo doeu em seu coração, como cartas de amor suicidas, aquelas palavras afundaram o que restava de sua ternura por ela. Ele pode entender que aquele big bang havia se espalhado não somente pelo seu espaço, mas por todo o espaço sideral imaginável e que de agora em diante, a verdade do sentimento pendia entre eles penosamente, como uma chuva torrencial.
Seu semblante pesou e um acesso de asma tomou conta dele:
“ se você quer saber , eu não te amo mais, nesse instante, você morreu pra mim.”
O sol já havia se posto, e um vento forte e quente tomava conta do quarto, fazendo um assovio pela fresta da janela de madeira. O mormaço de sexo acabou sendo varrido com o vento e a sensação de grandeza transbordou o ambiente. A cama larga, de lençóis brancos ficou pequena para aqueles dois corpos, ela deslizou para fora e seus pés tocaram o chão frio, seu corpo nu se arrepiou e ele pôde mais uma vez, mesmo sem amor, absorver aquela imagem e guardá-la sabe-se lá onde.
Agonia
ANGÚSTIA.O sujeito amoroso, ao sabor de tal ou qual contingência, sente-se tomado pelo medo de um perigo, de um sofrimento, de um abandono, de uma reviravolta—sentimento que ele exprime sob o nome de angústia. (Roland Barthes, fragmentos de um discurso amoroso)
“ No temor clínico de um colapso esconde-se o temor de um colapso já experimentado (primitive agony)...
A respiração forçada, os medos nunca vêem sozinhos, estão sempre acompanhados de demônios. Demônios meninos. Na hora, tudo é desespero. Não se vá! Posto que já vive o pesadelo, da perda da mulher amada.
...há momentos em que um paciente necessita que lhe digam...
Depois disso, não lhe resta nada. Não há consolo no mundo. O que vive é duro, é pedra e areia molhada.! Não importam o que digam, só importa a amada.
...que o colapso que o atemoriza, minando assim sua vida, já aconteceu.” (Winnicott)
Não acreditar é a melhor saída, depois disso só a morte, essa triste amiga, pode sedar o temor da solidão opaca. Quem lhe falar o contrário, entrega-lhe a corda e a espada. Só da verdade não se vive. Ela não o ama, só tem piedade. Deixe então que ele sofra, na loucura, essa cama boa. As mentiras antes experimentadas.
“ No temor clínico de um colapso esconde-se o temor de um colapso já experimentado (primitive agony)...
A respiração forçada, os medos nunca vêem sozinhos, estão sempre acompanhados de demônios. Demônios meninos. Na hora, tudo é desespero. Não se vá! Posto que já vive o pesadelo, da perda da mulher amada.
...há momentos em que um paciente necessita que lhe digam...
Depois disso, não lhe resta nada. Não há consolo no mundo. O que vive é duro, é pedra e areia molhada.! Não importam o que digam, só importa a amada.
...que o colapso que o atemoriza, minando assim sua vida, já aconteceu.” (Winnicott)
Não acreditar é a melhor saída, depois disso só a morte, essa triste amiga, pode sedar o temor da solidão opaca. Quem lhe falar o contrário, entrega-lhe a corda e a espada. Só da verdade não se vive. Ela não o ama, só tem piedade. Deixe então que ele sofra, na loucura, essa cama boa. As mentiras antes experimentadas.
Lu
Um dia ela me disse que Deus estava em todos os lugares, assim como o amor, que para os poetas é o grande Deus que rege o mundo. E enquanto que para os poetas, as palavras devem ser precisas, cada uma delas contendo a porção exata de compreensão, ela possui as suas próprias palavras que sussurra nos ouvidos dos anjos, quando quer falar com Deus.
Quando fala comigo, quando conversamos numa tarde qualquer, as suas palavras são as dos Homens. Uma boca cheia de verbos se abre e fecha, inúmera vezes, enchendo meus ouvidos. Pode-se dizer que existe uma ansiedade na sua fala sem pontos nem vírgulas, e que às vezes, desgovernadas ela ancoram com força e se espedaçam em cacos.Daí ela chora no chuveiro, aliviando sua alma, deixando escorrer pelo ralo uma angustia. A vontade que eu tenho é de dizer que não sofra, que o amor é uma coisa boba, nós poetas sabemos disso.
Outro dia recebi uma carta sua, falando sobre a chuva e sobre as lágrimas de Deus que caíram sobre seus ombros–ou foram sobre os meus?- e que provaram, dentro de tantas dúvidas, a sua presença. Não foi uma metáfora, porque a metáfora é vazia, é uma comparação entre duas coisas que parecem, mas não são. Quando sofremos não é metáfora, é dor física dentro do peito. Será que ela sofre? Será meu Deus?!
Imagino que ela olhou para cima e as lágrimas do céu caíram em suas janelas castanhas. Acho que na hora ela sorriu, deve ter sorrido espertamente. Abriu as mãos e de uma delas caiu uma caneta. Não precisava mais escrever aquele momento, não havia verbos em sua boca suficientes para decifrar o sentido do momento em que o ser humano é. Na plenitude do sentimento, ela me escreve outra carta contando o que aconteceu dentro dela naquele momento.
“Querida amiga, pergunto se a vida pensa em mim. Vocêpensa em mim?”
Eu sempre penso nela, como a vida poderia não pensar? A vida seria menor se não houvesse criado tal ser e se ele não tivesse um dia entrado pela porta da sala, rindo espertamente de tudo em volta, como se a piada já estivesse pronta.E eu acabo acreditando que onde ela está, Deus está. Porque o seu Deus anda sempre por perto, como um caderno de anotações, de inspirações.
E por fim, no meio disso tudo, chegamos sempre à mesma conclusão, entre uma garfada de macarrão e outra, entre uma risada e outra, que o seu Deus e o meu Amor são a mesma pessoa, que eu posso ficar tranqüila e acreditar que na dúvida existe sabedoria, existimos porque duvidamos, certo Lu? Certo, ela diria.
Quando fala comigo, quando conversamos numa tarde qualquer, as suas palavras são as dos Homens. Uma boca cheia de verbos se abre e fecha, inúmera vezes, enchendo meus ouvidos. Pode-se dizer que existe uma ansiedade na sua fala sem pontos nem vírgulas, e que às vezes, desgovernadas ela ancoram com força e se espedaçam em cacos.Daí ela chora no chuveiro, aliviando sua alma, deixando escorrer pelo ralo uma angustia. A vontade que eu tenho é de dizer que não sofra, que o amor é uma coisa boba, nós poetas sabemos disso.
Outro dia recebi uma carta sua, falando sobre a chuva e sobre as lágrimas de Deus que caíram sobre seus ombros–ou foram sobre os meus?- e que provaram, dentro de tantas dúvidas, a sua presença. Não foi uma metáfora, porque a metáfora é vazia, é uma comparação entre duas coisas que parecem, mas não são. Quando sofremos não é metáfora, é dor física dentro do peito. Será que ela sofre? Será meu Deus?!
Imagino que ela olhou para cima e as lágrimas do céu caíram em suas janelas castanhas. Acho que na hora ela sorriu, deve ter sorrido espertamente. Abriu as mãos e de uma delas caiu uma caneta. Não precisava mais escrever aquele momento, não havia verbos em sua boca suficientes para decifrar o sentido do momento em que o ser humano é. Na plenitude do sentimento, ela me escreve outra carta contando o que aconteceu dentro dela naquele momento.
“Querida amiga, pergunto se a vida pensa em mim. Vocêpensa em mim?”
Eu sempre penso nela, como a vida poderia não pensar? A vida seria menor se não houvesse criado tal ser e se ele não tivesse um dia entrado pela porta da sala, rindo espertamente de tudo em volta, como se a piada já estivesse pronta.E eu acabo acreditando que onde ela está, Deus está. Porque o seu Deus anda sempre por perto, como um caderno de anotações, de inspirações.
E por fim, no meio disso tudo, chegamos sempre à mesma conclusão, entre uma garfada de macarrão e outra, entre uma risada e outra, que o seu Deus e o meu Amor são a mesma pessoa, que eu posso ficar tranqüila e acreditar que na dúvida existe sabedoria, existimos porque duvidamos, certo Lu? Certo, ela diria.
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