02/12/2008

Diálogo II

O sol estava se pondo, foi um domingo de chuva e o céu se abria em azul e cinza no horizonte:

“Quando te vejo eu penso no big Bang.”

“ Então você me vê como uma teoria?”

“Talvez, uma teoria reluzente, complexa.”

Ela se virou contra a janela, suas costas eram largas e perfeitas, a luz atravessava o vidro e pousou alaranjada em seus cabelos e em toda a extensão do seu corpo. Ele acariciou a sua pele e pensava nesse instante em algumas rimas perfeitas.

“Queria escrever um poema sobre você, sobre seu corpo.”

“Eu não sabia que você escrevia poemas, achei que não gostasse. Aquele dia, no bar, eu estava recitando no sarau e a sua cara era de tédio.”

O silêncio ficou pesado no quarto. Ele aproximou sua boca dos ouvidos dela.

“Eu tive ciúmes de você naquele momento. Porque você é tão bela e estava lá, recitando para todos. Eu queria naquele dia que você fosse só minha.”

“ Não posso ser só sua. Na prática, essas coisas não funcionam.”

“Por isso que você é um big Bang, não cabe no meu pequeno espaço.”

“Vamos fazer amor de novo, vou sentir a sua falta.”

Essa última frase que ela disse, foi somente para feri-lo, já havia dado muitas chances, em todas, ele saia pela tangente. Então ela jurou que não ia mais se apaixonar.
Enquanto faziam amor, ele só pensava em como ia ser difícil passar as suas tardes só, não pensava nela, não queria pensar que ela existia. Mas ela, sofria porque no fundo queria ficar ao seu lado e sabia que não podia, não era justo, então tudo o que faria era magoá-lo até que a esquecesse. Era a sua vingança.

Ai, ela abriu os olhos, e fitou longamente os olhos dele:

“ Sabe, existem três tipos de coisas: as determinísticas, as probabilísticas e as caóticas. E pra mim, você é uma das coisas determinísticas.”

Ele de repente ficou surpreso com essa resposta dura, descobrira que para ela, ele não passava de uma parte fixa de seu destino, predestinado, previsível.

“Não há surpresas em você e muito menos no nosso futuro, porque eu já sei o que somos, e nós não poderemos ser mais nada além de dois corpos. Era destino que um dia me apaixonasse, mesmo sendo já determinado que você foderia a minha vida.”

Aquilo doeu em seu coração, como cartas de amor suicidas, aquelas palavras afundaram o que restava de sua ternura por ela. Ele pode entender que aquele big bang havia se espalhado não somente pelo seu espaço, mas por todo o espaço sideral imaginável e que de agora em diante, a verdade do sentimento pendia entre eles penosamente, como uma chuva torrencial.

Seu semblante pesou e um acesso de asma tomou conta dele:

“ se você quer saber , eu não te amo mais, nesse instante, você morreu pra mim.”

O sol já havia se posto, e um vento forte e quente tomava conta do quarto, fazendo um assovio pela fresta da janela de madeira. O mormaço de sexo acabou sendo varrido com o vento e a sensação de grandeza transbordou o ambiente. A cama larga, de lençóis brancos ficou pequena para aqueles dois corpos, ela deslizou para fora e seus pés tocaram o chão frio, seu corpo nu se arrepiou e ele pôde mais uma vez, mesmo sem amor, absorver aquela imagem e guardá-la sabe-se lá onde.

3 comentários:

goko disse...

O silêncio ficou pesado no quarto. Ele aproximou sua boca dos ouvidos dela e gritou " Tu escreve pra caralho, tua sensibilidade me irrita!

Fixado no destino
Onde foi que eu não tenho certeza
Eu não posso ver as lágrimas, elas me cegam

Tendencies

goko disse...

Esta do suicidal tendencies foi zuado mas eu sou o unico leitor mesmo rss
I wanna be sedated

bj

Anônimo disse...

uau... como já foi dito, apenas irei reiterar: tu escreve pra caralho mesmo!
muito bom, sério.